Pouco antes de subir no carro de som para discursar no ato bolsonarista deste domingo (16), em Copacabana, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), foi confrontado por uma mulher que o chamou de “genocida” e “assassino de jovens pretos em favela”.
Ele ignorou a crítica e seguiu para o palco, onde fez um discurso inflamado minimizando os crimes de golpistas do 8 de janeiro e atacando o governo Lula e o STF.
O evento, que tinha a promessa de reunir 1 milhão de pessoas, teve adesão muito abaixo do esperado, com apenas 18,3 mil manifestantes, segundo levantamento do Monitor do Debate Público do Cebrap e da ONG More in Common.
Candidatura disfarçada e defesa dos golpistas
Tarcísio aproveitou a manifestação para se lançar como candidato do bolsonarismo para 2026. No discurso, ele atacou a economia e defendeu a volta do ex-presidente: “Ninguém aguenta mais a inflação. Ninguém aguenta mais arroz caro, gasolina cara, o ovo caro. Prometeram picanha e não tem nem ovo. E, se tá tudo caro, volta Bolsonaro.”
O governador também sugeriu que Bolsonaro foi injustamente impedido de concorrer em novas eleições: “Qual a razão de afastar as urnas? É medo de perder a eleição? Por que eles sabem que vão perder?”
Já em tom cínico e descolado da realidade, ele defendeu criminosos condenados pelo STF por participação no ataque golpista de 8 de janeiro, citando nomes de envolvidos.
“A gente está aqui em homenagem ao Clezão. A gente está aqui pela família dele porque o Clezão não pode ter ido em vão. A gente está aqui pela Débora [Santos]. A gente está aqui pela Ezequiel”, falou. “O que eles fizeram? Usaram batom, num país onde todo dia a gente assiste traficantes indo pra rua.”
Ataques ao STF e ao governo Lula
Tarcísio também usou o evento para atacar a Justiça e resgatar o discurso bolsonarista sobre corrupção. “Os caras que assaltaram o Brasil, que assaltaram a Petrobras, voltaram pra cena do crime, voltaram pra política, foram reabilitados. Tá certo isso? Parece haver justiça nisso?”, disse.
“É correto que a gente garanta a anistia daqueles inocentes que nada fizeram e nós vamos lutar, vamos garantir isso. Vamos garantir que esse nosso projeto seja pautado, seja aprovado. E quero ver quem vai ter coragem. E podem ter certeza que nós vamos conseguir os votos.”
A manifestação aconteceu às vésperas do julgamento no STF que pode tornar Bolsonaro réu por tentativa de golpe de Estado. Entre os presentes estavam Cláudio Castro (PL), Valdemar Costa Neto, Silas Malafaia, Flávio e Carlos Bolsonaro.
Os discursos foram marcados por pedidos de anistia aos golpistas, ataques ao STF e críticas à gestão Lula. Ministros do Supremo, como Alexandre de Moraes, Flávio Dino e Cristiano Zanin, foram alvos de vaias.
O ato é um termômetro para medir a força do bolsonarismo e expôs a dificuldade de mobilização da extrema direita. Para Tarcísio, a tentativa de se projetar para 2026 pode funcionar politicamente, mas o fraco comparecimento demonstra que sem Bolsonaro na urna, a direita radical pode ter dificuldades em encontrar um líder forte.