Originalmente publicado por Brasil de Fato.
O trabalhador senegalês Ngange Mbaye, morto pela polícia militar de São Paulo na sexta-feira, faria, junto com sua companheira grávida de sete meses, um chá de bebê para seu filho, segundo advogado da vítima ouvido pelo portal UOL.
“Minha preocupação agora é com ela, ainda mais que ela está grávida. Não é fácil. Vamos buscar todos os direitos que eles tiverem”, disse ao UOL Adriano Santos, que também integra a Comissão de Segurança Pública da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), em São Miguel Paulista (SP).
O trabalhador ambulante foi atingido no peito por um oficial da Polícia Militar (PM) na tarde da sexta (11), após ter sua mercadoria apreendida pelos agentes. Ele foi levado de ambulância até o hospital Santa Casa de Misericórdia, mas não resistiu. O senegalês deixou a companheira e dois filhos.
O assassinato levou mais de 60 entidades do movimento negro a pedir à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), da Organização dos Estados Americanos (OEA) que investigue com celeridade tanto o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), como o secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite (PP).
Uneafro – uma das entidades que co-assinam o pedido – já havia denunciado ambos os dirigentes à OEA em dezembro, pelo aumento da letalidade policial.
“Essa ação marca o início de uma campanha permanente em São Paulo contra a política de Segurança Pública implementada pelo governador Tarcísio de Freitas e seu secretário, Guilherme Derrite”, disse, na época, Douglas Belchior , da Uneafro.”
“Entendemos que o recrudescimento é uma resposta imediata à militarização da administração pública e tem um como principal objetivo o derramamento de sangue nas periferias do estado, principalmente, como indicam todos os índices, do povo negro. Vamos trabalhar pelo impeachment do governador e exigimos uma imediata interrupção das mortes por policiais militares.”
Além de morte, mais violência
Centenas de imigrantes senegaleses saíram às ruas neste sábado (12) na região do Brás, em São Paulo, para protestar contra a morte de Mbaye. O ato terminou com a Polícia Militar reprimindo os manifestantes com bombas de gás lacrimogênio. O ato pacífico da comunidade senegalesa, em grande parte ambulantes como Mbaye, se concentrou no largo da Concórdia e, a partir das 10h, percorreu as ruas do bairro comercial com gritos de “polícia assassina e racista”.
No decorrer de todo o ato, também convocado pelo Sindicato dos Camelôs Independentes de São Paulo, os senegaleses exibiam cartazes com pedidos de justiça por Mbaye. Familiares e amigos do senegalês estavam visivelmente emocionados.
Com grande efetivo, incluindo agentes do Batalhão de Ações Especiais de Polícia (BAEP) e da Cavalaria, a polícia acompanhou a manifestação durante todo seu trajeto. No fim, com escudos, bombas e armas, os agentes dispersaram a multidão após supostamente terem sido atingidos por um objeto.