O Papa Francisco deixou sua marca na Igreja Católica ao longo de seus 12 anos de pontificado com posições voltadas à defesa dos direitos humanos e à inclusão, como a autorização para que casais do mesmo sexo recebam bênçãos. Essa postura, no entanto, gerou fortes críticas de setores conservadores.
Com sua morte, a Igreja dá início ao processo de sucessão para a escolha de um novo pontífice. Caso haja uma guinada conservadora, um dos nomes mais cotados é o do cardeal Robert Sarah.
Sarah é amplamente reconhecido como um dos principais representantes do conservadorismo dentro da Igreja. Ele sustenta posições tradicionais sobre moral sexual, estrutura familiar, liturgia e doutrina, rejeitando pautas como ideologia de gênero, união entre pessoas do mesmo sexo e aborto, que classifica como manifestações de um “colonialismo ideológico ocidental”.
Também defende práticas litúrgicas mais tradicionais, como a missa celebrada “ad orientem” (com o sacerdote voltado para o altar) e a liturgia tridentina em latim. Ele critica aquilo que considera modernizações excessivas que colocam em risco a essência da fé católica.
Em obras como “Deus ou Nada” e “A Força do Silêncio”, argumenta que a Igreja precisa retornar às suas raízes, fazendo oposição ao secularismo e ao relativismo. Essas ideias contrastam com a postura mais aberta do Papa Francisco e o colocam em evidência entre os setores mais reacionários.
Nascido em 15 de junho de 1945, em Ourous, na Guiné, Sarah cresceu em uma família humilde e não cristã, convertendo-se ainda na infância ao catolicismo. Cursou seminários na Guiné, Costa do Marfim e Senegal, e completou sua formação teológica em Roma e Jerusalém.
Foi ordenado sacerdote em 1969 e, em 1979, aos 34 anos, tornou-se bispo de Conacri, nomeado por João Paulo II – o mais jovem do mundo à época. Em 2010, foi criado cardeal-diácono por Bento XVI, com o título de São João Bosco na Via Tuscolana.
Na Cúria Romana, ocupou cargos de destaque: foi secretário da Congregação para a Evangelização dos Povos (2001-2010), presidente do Pontifício Conselho Cor Unum (2010-2014), e prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos (2014-2021), este último por indicação do próprio Papa Francisco. Durante sua gestão, manteve firme sua defesa da liturgia tradicional.
Sarah é conhecido por seu alinhamento com a doutrina católica clássica e por suas críticas ao avanço do secularismo e do relativismo moral. Em seus escritos, como “O Dia Agora Está Terminando” (2019), defende uma liturgia mais solene e reverente. Suas posições são elogiadas por conservadores e enfrentam resistência entre setores mais progressistas.
Apesar de ter ocupado postos relevantes durante o papado de Francisco, Sarah sempre deixou claras suas divergências com o estilo mais pastoral e aberto do pontífice, especialmente em temas como sinodalidade e a abordagem de questões contemporâneas. Isso o tornou uma figura polarizadora: reverenciado por tradicionalistas e visto com cautela pelos mais liberais.
Desde que deixou a Congregação para o Culto Divino em 2021, o cardeal segue atuando como escritor e palestrante, sendo uma voz ativa nos debates sobre os rumos da Igreja. Costuma ser citado como possível candidato a futuro conclave, embora sua idade – 79 anos em 2025 – e perfil ideológico possam pesar em um colégio cardinalício cada vez mais plural.