O governo do Reino Unido está avaliando a adoção de um sistema de saúde inspirado no modelo brasileiro de agentes comunitários. A proposta, que toma como referência a Estratégia Saúde da Família do Sistema Único de Saúde (SUS), foi destaque em uma reportagem publicada pelo jornal britânico ‘The Telegraph’ na segunda-feira (7).
Segundo o periódico, um projeto-piloto baseado no modelo brasileiro já está em andamento no bairro de Pimlico, em Londres, com previsão de expansão para outras 25 regiões da Inglaterra. A iniciativa surge em meio a uma crise no NHS, o sistema público de saúde britânico, que enfrenta desafios estruturais e dificuldades no acesso da população aos serviços médicos.
O The Telegraph relata que o Ministério da Saúde britânico, sob o comando do trabalhista Wes Streeting, demonstrou forte interesse na Estratégia Saúde da Família. O governo teria enviado representantes ao Brasil para conhecer de perto a atuação dos agentes comunitários e assinou uma carta de intenções para cooperação em saúde entre os dois países.
O novo plano de reestruturação do NHS, previsto para ser lançado em junho, deve priorizar ações de prevenção e aproximar os cuidados médicos das comunidades — assim como ocorre no Brasil. O objetivo é reduzir a sobrecarga hospitalar e oferecer atendimento contínuo e personalizado à população.
Um dos principais defensores da adoção do modelo brasileiro no Reino Unido é o médico inglês Matthew Harris, que já atuou em Pernambuco e atualmente integra a Escola de Saúde Pública do Imperial College de Londres. Segundo ele, a proposta é “100% inspirada” na Estratégia Saúde da Família.
Em entrevista à BBC News Brasil em 2023, Harris destacou a importância do trabalho dos agentes comunitários de saúde e acredita que o Reino Unido pode se beneficiar do modelo aplicado no Brasil desde os anos 1990.
Na reportagem, as jornalistas Laura Donnelly e Claudia Marquis apontam que o modelo brasileiro provocou melhorias significativas nos indicadores de saúde. Elas visitaram comunidades em cidades como Rio de Janeiro, Duque de Caxias e Manaus, onde constataram a eficácia da atuação dos agentes, mesmo diante de obstáculos como pobreza, violência urbana e grandes distâncias geográficas.
No Brasil, os agentes comunitários atuam em suas próprias comunidades, integrando equipes multiprofissionais com médicos, enfermeiros e técnicos. Mesmo sem formação superior na área da saúde, eles recebem treinamento e passam a visitar as residências dos moradores oferecendo escuta ativa, orientações, encaminhamentos e apoio contínuo.
Apesar do sucesso brasileiro, o The Telegraph levanta uma dúvida: seria possível replicar esse modelo em um contexto sociocultural diferente, como o do Reino Unido? As repórteres ponderam que a falta de um senso de comunidade forte pode ser um entrave para que o modelo funcione plenamente em solo britânico.
“A Grã-Bretanha moderna tem um senso de comunidade que pode ser aproveitado? Ou uma batida na porta não seria tão bem recebida?”, questiona o jornal.
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