“Se fosse fácil, qualquer um conseguiria”, escreveu a policial militar Mayara Kelly Mota, de 30 anos, em uma de suas publicações no Instagram, em que acumula cerca de 43 mil seguidores. A frase motivacional acompanhava um vídeo em que a agente aparece treinando sua pontaria com arma de fogo, um dos muitos conteúdos que compartilha sobre sua rotina na corporação, a maternidade e a vida familiar. Esse tipo de publicação, porém, a levou a receber uma sanção disciplinar da Polícia Militar do Ceará.
A decisão, publicada na última sexta-feira (4), determinou que Mayara cumpra dois dias de prisão no quartel por violar o Código Disciplinar Militar ao se promover usando a farda da corporação. Os vídeos que motivaram a punição mostram a policial lavando uma viatura e ensinando como fazer um torniquete – este último publicado em 18 de julho de 2023.
“No vídeo em que lavo a viatura, comento sobre as funções exercidas por mulheres na corporação, como patrulheira e motorista. Algumas pessoas acham que a mulher na polícia só trabalha no administrativo. Mal sabem eles que exercemos inúmeras funções que até uns anos atrás poderiam ser consideradas apenas coisas para homem”, declarou Mayara na gravação.
A PM-CE afirmou que a sindicância seguiu todos os procedimentos legais, garantindo ampla defesa. A corporação enquadrou as publicações da policial nos artigos do Código Disciplinar que tratam da promoção pessoal com uso da farda e da divulgação de conteúdos que possam afetar a imagem da instituição.
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A defesa de Mayara, no entanto, discorda da punição. Francisco Sabino, advogado responsável pelo caso e membro da Associação das Praças Militares do Estado do Ceará (Aspra), já entrou com recurso para tentar anular a sanção.
“É uma demonstração clara de quebra do princípio da isonomia. Eles têm que tratar de forma isonômica e (a situação) demonstra que está havendo um tratamento desigual entre policiais”, argumentou Sabino, destacando que outros agentes publicam conteúdos semelhantes sem sofrer punições.
Mayara, que ingressou na PM em 2017, é mãe de Lorenzo, de seis anos, e Maísa, de dez meses. Seu marido também é policial militar, e o casal frequentemente aparece junto em fotos compartilhadas nas redes sociais. Apesar da repercussão do caso, a policial foi orientada a não se manifestar publicamente, limitando-se a agradecer nas redes sociais o apoio recebido.
Enquanto aguarda a decisão sobre o recurso, que deve ser analisado em até dez dias pelo comando da PM, Mayara corre o risco de ter que cumprir a punição de dois dias reclusa no quartel. “Não é dentro de uma cela, de uma prisão. Ela fica reclusa aos muros do quartel. Fica dois dias fora da casa dela, do convívio com o marido e com os dois filhos”, explicou Sabino.
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