“Eu acho que esses acontecimentos foram extremamente danosos e, ao mesmo tempo, repudiados pelo povo brasileiro e todas as classes.”
Assim se manifestou o ex-presidente José Sarney ao comentar o episódio de 8 de janeiro, quando, segundo ele, as instituições brasileiras —criadas durante a transição democrática após a ditadura militar (1964-1985)— evitaram um golpe de Estado.
Sarney ressaltou que, apesar dos danos causados pelos protestos que ocorreram em Brasília naquela data, as estruturas democráticas que o país construiu ao longo de décadas demonstraram força ao atravessar “dois impeachments e uma tentativa de mudança do Estado de Direito no dia 8 de janeiro.”
Para o ex-presidente, foi justamente essa solidez institucional que permitiu ao Supremo Tribunal Federal analisar as denúncias contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outras 33 pessoas sem abalos democráticos.
Ele concedeu as declarações durante o evento “Democracia 40 anos: Conquistas, Dívidas e Desafios”, organizado pela Fundação Astrojildo Pereira e pelo Cidadania, em homenagem às quatro décadas de sua posse na Presidência neste sábado (15). A atividade aconteceu no Panteão da Pátria, em Brasília, monumento construído na gestão Sarney para prestar tributo a heróis e heroínas nacionais. Ex-ministros, lideranças políticas e o ex-presidente do Uruguai Julio María Sanguinetti também compareceram.
O ex-presidente relembrou que, ao assumir o cargo em 15 de março de 1985, estava no papel de vice-presidente eleito ao lado de Tancredo Neves, que se encontrava internado e viria a falecer no mês seguinte. Segundo Sarney, foi uma transição delicada: “Depois de uma luta tão grande para chegar àquele momento, se houvesse qualquer dúvida sobre quem assumiria, poderíamos enfrentar um grande risco.”
Em entrevista à Folha de S. Paulo, Sarney declarou que manteve o ministério escolhido por Tancredo e percebeu que seria sua responsabilidade conduzir o processo de transição do regime militar para a democracia. “Fui um presidente marcado para ser deposto, como muitos outros na história do Brasil”, comentou, destacando a instabilidade política daquele período.
Sarney também fez uma avaliação retrospectiva de seu governo, incluindo momentos de depressão vividos nos anos 1980 e acusações de ter beneficiado deputados para garantir a extensão de seu mandato para cinco anos. Ele reflete hoje sobre as críticas que fez a Juscelino Kubitschek e diz se arrepender de algumas delas.
Por fim, o ex-presidente reforçou que a maior conquista de sua gestão foi assegurar a consolidação democrática no país, que desde então não sofreu “nenhum hiato” no regime de liberdades.
Para Sarney, os acontecimentos de 8 de janeiro são mais um exemplo de como as instituições continuam resilientes, preservando o Estado de Direito mesmo em face de crises políticas e tentativas de ruptura.
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