Salah Al-Din Yasser Hamad, de 17 anos, cidadão brasileiro e palestino, está detido sem julgamento desde novembro de 2024 na prisão militar de Ofer, na Cisjordânia ocupada. Ele é primo de Walid Ahmed, o jovem brasileiro-palestino que morreu no mês passado sob custódia israelense, após denúncias de maus-tratos. Com informações do site da Fepal.
Segundo relatos da família, Salah chorou intensamente ao saber da morte do primo, com quem conviveu a vida inteira e considerava como um irmão.
A informação chegou a ele por meio de outro jovem preso, que foi colocado em sua cela e contou ter ouvido, enquanto ainda estava em liberdade, sobre a morte de um menor de idade de Silwad – cidade natal da família. Salah entendeu imediatamente que se tratava de Walid.
A reação emocional de Salah foi relatada por um colega de cela libertado dias depois, que compartilhou o relato com Nadia Yasser Hamad, mãe de Salah e nascida no Brasil. A comoção levou o advogado da família a obter autorização para que Nadia visitasse o filho nesta quarta-feira (9).
Salah foi preso em 18 de novembro de 2024 por soldados israelenses, sem mandado judicial. Desde então, está detido em Ofer, uma prisão militar conhecida por abusos, onde, segundo a Comissão Independente de Direitos Humanos, detentos têm sofrido tortura, humilhações e privações extremas desde o início da guerra em Gaza, em outubro de 2023.
Relatos de choques elétricos, privação de alimento, frio e prisões sem julgamento se acumulam. Os prisioneiros são rotulados como “combatentes ilegais”, sem direito a um devido processo legal.
Na primeira visita permitida à família, em dezembro, a mãe de Salah disse que mal o reconheceu: “Estava com a cabeça raspada e muito mais magro.” Dois meses depois, em nova audiência adiada, foi o pai quem o viu. “Ele veio até mim, porque eu não consegui reconhecê-lo. Nunca teve barba, mas estava com uma enorme, e extremamente desnutrido”, relatou Yasser Hamad.
Salah enfrenta 21 acusações, entre elas a fabricação de coquetéis molotov, arremesso de pedras e tentativa de ataque a soldados e colonos israelenses. A família nega todas as acusações e denuncia que ele foi preso sem provas concretas, assim como Walid.
Não é a primeira vez que Salah é detido. Em junho de 2024, aos 16 anos, foi preso após soldados ameaçarem levar sua irmã de 14 anos caso ele não se entregasse.
Ele estava em um shopping com amigos. Mesmo sem mandado, os militares exigiram sua presença imediata. Salah foi liberado após quatro dias, com o apoio da diplomacia brasileira, mas relatou ter sido espancado no camburão militar antes da soltura.
A segunda detenção, em novembro, ocorreu dias após Salah ser avisado por amigos sobre a presença de soldados nas ruas de Silwad. Temendo nova tortura, decidiu sair de casa e combinar de se apresentar no dia seguinte. No entanto, os militares invadiram a casa da família e exigiram que ele retornasse.
O pai acredita que a prisão está relacionada a uma disputa territorial com um colono israelense que ocupou uma área pertencente à família Hamad.
A propriedade, usada para encontros familiares e apicultura, foi alvo de incêndio criminoso e vandalismo. Salah e amigos foram ao local tentar salvar equipamentos e acabaram envolvidos em nova denúncia feita pelo colono às autoridades israelenses. Pouco depois, ele e outros jovens foram presos.
Diante do histórico de maus-tratos e da morte recente de Walid, os pais de Salah apelam ao governo brasileiro. “Salah é um menor de idade, cidadão brasileiro, e está preso sem julgamento. O Brasil precisa agir para garantir que ele não sofra o mesmo destino do primo”, clama Nadia.
O pai, Yasser, também pede apoio diplomático. “Todos têm direito à defesa. Mas nos julgamentos em Israel, a voz do advogado de Salah tem sido ignorada. Isso é inaceitável.”
A mãe reforça o apelo: “A causa palestina é justa. Não é só meu filho. Muitos jovens inocentes estão sofrendo. O governo brasileiro sempre esteve do lado da justiça. Confiamos que tomará uma posição mais firme contra essas violações.”