Como quem guarda um chocolate delicioso pra ser saboreado no momento certo, foi assim que somente ontem, (domingo, 13), assisti ao magnífico filme, “Ainda Estou Aqui”, dirigido por Walter Salles. O longa, como todos sabem, ganhou o inédito Oscar de melhor filme estrangeiro. Chorei, aplaudi, me emocionei.
Tive raiva, muita raiva, mas também tive esperança. Em 1971, o engenheiro e ex-deputado federal, Rubens Paiva, foi preso em sua residência no Rio de Janeiro, pra nunca mais voltar. Ele foi assassinado nas dependências do DOI-CODI, um dos órgãos da repressão da ditadura militar instalada com o golpe de 1964. Seu corpo nunca foi encontrado.
A brutalidade covarde do regime era tamanha que até sua mulher, Eunice Paiva e sua filha de 15 anos, também foram presas, mas libertadas poucos dias depois. É aqui que começa o filme. Com 5 filhos menores pra criar, Eunice Paiva, interpretada pela talentosíssima e premiada atriz, Fernanda Torres, se transforma numa muralha instransponível e passa a ser a cabeça da família, aparentemente imune a emoções.
Aparentemente, apenas. Não há lágrimas em excesso, mesmo sabendo nós que por dentro há imensurável dor e sofrimento. Eunice dedicou sua vida à família órfã e a desvendar os detalhes da prisão e desaparecimento do seu marido. Foi somente em 2024 que a certidão de óbito foi retificada, nela constando que Rubens Paiva tinha sido violentamente assassinado pelo estado. Sua viúva dedicou a vida em busca da verdade.
Ela nunca mais se casou e morreu, em São Paulo, ao lado da família, aos 89 anos. Eunice, fascina e inspira, comove e nos fortalece. O filme é também um alerta, não se pode banalizar a execução de um golpe de estado. Todo ele é medonho e abjeto. Tramita no STF( Supremo Tribunal Federal) ações penais que buscam identificar e punir uma trama golpista.
O ex-presidente Jair Bolsonaro, figura em uma delas como réu. Isso me dá um frio na espinha. Por óbvio que todos terão direito à ampla defesa e ao contraditório. Ainda é cedo para jogar os réus na fogueira. A despeito dos resultados vindouros, testemunhamos estarrecidos a milhares e milhares de pessoas, acampando em frente aos quartéis, clamando pelo retorno do redime militar, pela ditadura militar. Sabem eles o que isso significa? Os maléficos impostos ao Brasil pela esquerda gatuna, foi tamanho a ponto de implantar um surto de amnésia em larga escala? Já disse em outras ocasiões: pra defender a nossa democracia eu mato e morro. Eu também estou aqui.