O governo de Donald Trump anunciou na noite de sexta-feira (14) a expulsão do embaixador da África do Sul em Washington, Ebrahim Rasool, aprofundando a crise diplomática entre os dois países. A medida ocorre após semanas de tensões, incluindo cortes de recursos aos sul-africanos, boicote à reunião do G20 no país africano e oferta de asilo a brancos sul-africanos que alegam discriminação por parte do governo de Cyril Ramaphosa.
O Departamento de Estado declarou Rasool como “persona non grata”, acusando-o de promover ataques raciais contra os Estados Unidos e o presidente Trump.
“O embaixador da África do Sul nos Estados Unidos não é mais bem-vindo em nosso grande país”, afirmou Marco Rubio, secretário de Estado. “Ebrahim Rasool é um político que faz ataques raciais e odeia os Estados Unidos e o @POTUS (presidente dos EUA). Não temos nada a discutir com ele e, portanto, ele é considerado PERSONA NON GRATA”, completou em post no X, antigo Twitter.
South Africa’s Ambassador to the United States is no longer welcome in our great country.
Ebrahim Rasool is a race-baiting politician who hates America and hates @POTUS.
We have nothing to discuss with him and so he is considered PERSONA NON GRATA.https://t.co/mnUnwGOQdx
— Secretary Marco Rubio (@SecRubio) March 14, 2025
A crise diplomática tem suas raízes na política de reforma agrária e redistribuição de terras adotada pelo governo sul-africano. Apesar de o país ter abolido o regime de segregação racial do Apartheid há 30 anos, a concentração de riqueza e terras permanece majoritariamente nas mãos da minoria branca.
Para corrigir essa desigualdade histórica, o governo de Cyril Ramaphosa tem implementado medidas para garantir uma distribuição mais equitativa de terras.
No entanto, essas políticas têm sido alvo de críticas de Trump e de seu aliado, o bilionário sul-africano Elon Musk. Na semana passada, Musk ampliou as alegações de racismo contra brancos na África do Sul. “A Starlink não tem permissão para operar na África do Sul, porque eu não sou negro”, disse o Musk. A declaração gerou revolta e foi interpretada como um apoio às teses supremacistas brancas.
O embaixador Ebrahim Rasool respondeu às críticas de Trump e Musk, acusando-os de promoverem ideias supremacistas. Ele citou o apoio de Musk e do vice-presidente JD Vance ao britânico Nigel Farage e ao partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha, herdeiro do movimento nazista.
“Essas figuras públicas estão promovendo uma agenda perigosa que não condiz com os valores democráticos”, afirmou Rasool.
A reação de Trump foi imediata. Além de expulsar o embaixador, o governo estadunidense reforçou seu apoio aos brancos sul-africanos que alegam discriminação, oferecendo asilo político. A medida foi vista como uma interferência direta nos assuntos internos da África do Sul e gerou indignação no governo de Ramaphosa.
“Medida não reconhece história de apartheid”
Para o governo sul-africano, oferecer asilo político a brancos “não reconhece a profunda e dolorosa história de colonialismo e apartheid” pela qual seu país passou, em referência ao regime de segregação racial que governou a África do Sul entre 1948 e 1994.
A propriedade da terra é uma questão polêmica na África do Sul, com a maior parte das terras agrícolas ainda pertencendo a pessoas brancas, três décadas após o fim do apartheid. Esse é o legado de uma política de expropriação de terras da população negra que perdurou durante o apartheid e o período colonial anterior.
De acordo com um relatório do governo de 2017, mais de 72% das terras agrícolas privadas do país pertencem a pessoas brancas, representando menos de 8% de todos os sul-africanos
“É decepcionante observar que tais narrativas parecem ter sido favorecidas entre os tomadores de decisão nos Estados Unidos da América”, disse Pretória.
“É irônico que a ordem executiva preveja o status de refugiado nos EUA para um grupo na África do Sul que permanece entre os mais privilegiados economicamente, enquanto pessoas vulneráveis de outras partes do mundo nos EUA estão sendo deportadas e não recebem asilo, apesar das dificuldades reais”, completou.
O gabinete do presidente sul-africano negou qualquer intenção de “confiscar terras”.
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