Com medo da prisão após ser tornado réu por tentativa de golpe de Estado, Jair Bolsonaro (PL) dá sinais de uma mudança estratégica. O ex-presidente passou a se expor mais e a adotar um discurso mais duro, com o objetivo de mobilizar sua base de apoio, conforme informações da Folha de S.Paulo.
Segundo aliados e parlamentares bolsonaristas, trata-se de uma correção de rumo para enfrentar uma provável condenação criminal. A estratégia inclui acirrar o discurso, fortalecer a extrema-direita e reagir ao julgamento em curso no Supremo Tribunal Federal (STF).
Como a expectativa é de condenação ainda neste ano, Bolsonaro tenta construir um movimento popular significativo a seu favor, apostando em um fato novo que possa reverter o processo, seja na forma de uma anistia aprovada no Congresso ou até de sanções dos Estados Unidos contra o Judiciário brasileiro.
Na quarta-feira (26), dia em que se tornou réu, Bolsonaro falou por 50 minutos e depois concedeu entrevista de mais 45 minutos a jornalistas no Senado. Desde então, aliados intensificaram convocações para novos atos públicos.
Manifestações
A esquerda marcou um protesto na Avenida Paulista para o próximo domingo (30), pedindo a prisão do ex-presidente. No entanto, apoiadores de Bolsonaro também planejam uma manifestação no mesmo local, no domingo seguinte (6), com a presença de parlamentares e governadores alinhados.
“Vamos rodar o Brasil inteiro e fazer manifestação pela anistia. Ele vai para o Rio Grande do Norte, ele vai para Santa Catarina, ele vai para o Paraná, ele vai para São Paulo. Vai tocar a vida dele normalmente. Ano que vem é uma eleição importante. Tem que fortalecer as lideranças dos nossos partidos, dos aliados”, disse o senador Jorge Seif (PL-SC).
Aliados avaliam que a melhor forma de ativar a base é deixar Bolsonaro falar livremente, sem script, mas com a recomendação de não usar palavrões nem ataques diretos. Em suas falas recentes, no entanto, o ex-presidente adotou tom mais agressivo e voltou a criticar o sistema eleitoral. “Eu não sou obrigado a acreditar, confiar num programador. Eu confio na máquina”, declarou.
“[O STF] Quer botar 30 [anos de cadeia] em mim. Se eu estivesse devendo qualquer coisa, eu não estaria aqui. Fui para os Estados Unidos, graças a Deus, que se eu estivesse aqui no dia 8 de janeiro, eu estaria preso até hoje. Ou morto, que é o sonho que eu sei de alguns aí. Porque preso eu vou dar trabalho.”
Viagens
Nas viagens programadas pelo país, Bolsonaro pretende repetir os argumentos usados por sua defesa no STF, principalmente para descredibilizar a delação do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens e figura central nas investigações.
Em outra frente, aliados esperam que o presidente dos EUA, Donald Trump, imponha sanções ou restrições a ministros do Supremo, em especial Alexandre de Moraes, o que poderia alterar o cenário atual — embora ainda não se saiba de que forma isso ocorreria.
Fux
Internamente, há expectativa em torno do posicionamento do ministro Luiz Fux, único a demonstrar divergências com decisões de Moraes nos processos ligados aos ataques de 8 de janeiro. Bolsonaro, que acompanhou o julgamento ao lado do filho Flávio Bolsonaro (PL-RJ), disse estar “positivamente surpreso” com Fux, o que animou seus aliados.
Cortes das falas de Fux já circulam nas redes sociais bolsonaristas, mas ainda não se sabe como ele votará no julgamento do mérito. Até lá, Bolsonaro seguirá apostando na mobilização popular e no discurso de vítima política como forma de tentar mudar o rumo do processo no Supremo.
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