Em entrevista concedida à Folha de S. Paulo, o chanceler ucraniano Andrii Sibiha disse que acredita que o Brasil tem condições de influenciar a Rússia a aceitar um pacote de garantias de segurança para um cessar-fogo, destacando sua tradição diplomática. Enquanto Kiev defende a supervisão europeia da trégua, Moscou rejeita a presença dessas tropas. A posição de Sibiha contrasta com a de Zelenski, que em Davos afirmou que o Brasil havia perdido relevância nas negociações. Confira trechos:
A Rússia tinha concordado, em conversa entre Donald Trump e Vladimir Putin, com o cessar-fogo parcial para impedir ataques à infraestrutura energética. Mas os ataques prosseguiram, e a Ucrânia também atingiu alvos desse tipo.
Lamentavelmente, essa foi a resposta deles à proposta de cessar-fogo completo após Jiddah [reunião de negociação na Arábia Saudita]. Eles atacaram massivamente nossas cidades, alvos civis. É por isso que não confiamos neles e precisamos de esforços coletivos para pressioná-los pela paz. E aqui o Brasil poderia desempenhar um papel importante como um país com influência global.
O presidente Lula tem uma reunião bilateral com Putin em maio, e há a cúpula do Brics em julho. Que tipo de papel o governo brasileiro poderia desempenhar nas negociações de paz?
Do nosso ponto de vista, é hora da diplomacia. O apoio de um país como o Brasil é realmente crucial e importante. Confiamos no apoio brasileiro aos nossos esforços para alcançar uma paz justa e abrangente na Ucrânia. O Brasil tem influência sobre a Rússia. A Ucrânia não é um obstáculo para a paz. E os ataques massivos do lado russo após Jiddah demonstram quem quer paz e quem quer guerra.
Que tipo de influência o Brasil deveria exercer sobre a Rússia?
Influência política, diplomática. Um país como o Brasil, com profundas tradições diplomáticas, sabe como pressionar países terceiros. Para alcançar uma paz justa e abrangente, é necessário dar à Ucrânia um pacote de garantias de segurança.
Em janeiro, em Davos, Zelenski disse que “o trem do Brasil já passou” e que o país não era mais um ator nas negociações. Algo mudou após todas as ações que Trump tem tomado em relação à Ucrânia? O sr. e Zelenski gostariam de se encontrar com as autoridades brasileiras?
Tenho contatos constantes com meu homólogo [Mauro Vieira]. Nosso chefe de gabinete presidencial, Andrii Yermak, também tem contatos regulares com Celso Amorim. E, claro, estamos interessados no diálogo entre nossos presidentes. Estamos interessados em realizar a visita de nosso presidente ao seu grande país. E vice-versa, receberíamos com satisfação a visita do presidente Lula à Ucrânia. (…)