A camisa da seleção brasileira de futebol está perdida para sempre, associada ao bolsonarismo. Está manchada pela extrema-direita, que a veste em cada comício golpista.
O que fazer? Mudar, reciclar. Acontece nas piores famílias. Ninguém aguenta mais torcer para a equipe da CBF, e não apenas por causa do baixo nível do rendimento dos atletas.
Após a Segunda Guerra Mundial, a Alemanha se viu dividida entre o Oriente e o Ocidente, e o processo de reconstrução da identidade nacional foi longo e repleto de simbolismos. Um exemplo marcante foi a adoção de hinos nacionais que refletiam as mudanças políticas e sociais.
A República Democrática Alemã (RDA), representando o bloco socialista, adotou o hino “Auferstanden aus Ruinen” (“Reerguidos das ruínas”), refletindo uma reconstrução. Já a República Federal da Alemanha (RFA), a parte ocidental, demorou a adotar um hino oficial e, quando finalmente o fez, optou por “Deutschlandlied”, mas com a exclusão da primeira estrofe, que continha versos com conotações nacionalistas e belicistas.
A decisão de vetar a primeira estrofe do “Deutschlandlied” foi uma medida cautelar em pleno período de desnazificação, evitando qualquer associação com os ideais de superioridade racial e nacionalistas que haviam marcado o regime nazista (caiu ‘Deutschland, Deutschland über alles, Über alles in der Welt”, ou seja, ‘Alemanha, Alemanha acima de tudo/ Acima de tudo no mundo”).
Em 1938, durante o regime fascista de Benito Mussolini, a seleção italiana passou a usar um uniforme completamente preto. Jogaram assim na Copa do Mundo na França. A escolha da cor, que remetia aos camicie nere, exércitos paramilitares fascistas, foi temporária. Após a morte de Mussolini e o término do conflito, o azul foi retomado como a cor oficial.
Esse histórico de reconstrução simbólica e de conscientização de que certos símbolos e práticas precisam ser afastados devido às suas associações com tiranias pode ser comparado à situação atual do futebol brasileiro. A camisa canarinho, em sua tradicionalidade e identidade, passou a carregar uma conotação sinistra.
O Brasil enfrenta a necessidade de recuperar o amor pelo time nacional, conspurcado também por cafajestes como Neymar e acólitos. A camisa, que antes era símbolo de orgulho, se tornou unifirme dos seguidores de Jair Bolsonaro.
Portanto, assim como a Alemanha teve que adotar um novo entendimento do seu hino e a Itália recuperar a Azzurra em nome de uma nova realidade, o Brasil, hoje, precisa considerar a mudança de sua camisa da seleção.