A operação bilionária entre o Banco Master e o BRB, estatal do Distrito Federal, acendeu alertas no mercado financeiro e no meio político. A transação prevê a aquisição de uma parte do Master pelo BRB por R$ 3,5 bilhões, excluindo os ativos considerados tóxicos, como precatórios e empresas em dificuldades. O movimento, visto como um resgate disfarçado, é questionado por especialistas do setor e já provoca repercussão entre autoridades.
O Banco Master, até pouco tempo associado a investimentos de alto risco e CDBs com rendimento de 140% do CDI, expandiu sua atuação de forma acelerada, apostando em carteiras compostas majoritariamente por precatórios e empresas em recuperação judicial. Em três anos, multiplicou por dez o patrimônio, financiando grupos como Restoque, BeFly, Ambipar, Veste, Metalfrio e Biomm. Em alguns casos, tornou-se sócio das companhias, assumindo riscos ainda maiores.
Diante do esgotamento de fontes tradicionais de captação, como fundos de pensão estaduais e municipais, os próprios sócios injetaram R$ 1,6 bilhão na tentativa de sustentar o caixa. A busca por US$ 500 milhões em bonds no exterior fracassou, o que expôs ainda mais a fragilidade do modelo de negócios do banco.
Com dificuldades de liquidez e ativos considerados de baixa qualidade, o Master passou a ser evitado por instituições financeiras de grande porte. Nenhum dos grandes bancos — como Itaú, Bradesco, Safra ou BTG Pactual — demonstrou interesse na aquisição. Ainda assim, o BRB decidiu assumir parte da operação, prometendo manter fora do acordo os ativos mais problemáticos.
A justificativa do banco brasiliense é que a compra aumentaria o retorno sobre o patrimônio e permitiria acesso a operações estratégicas. No entanto, analistas ouvidos por veículos do setor classificam a movimentação como um resgate disfarçado, feito com recursos públicos e sem transparência suficiente quanto aos reais benefícios para os correntistas e acionistas.
A transação também ganhou contornos políticos. Ricardo Cappelli, presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial e ex-interventor federal no DF após os atos de 8 de janeiro, declarou: “Augusto Lima, um dos sócios do Banco Master, que Ibaneis está tentando salvar comprando por 2 bilhões com dinheiro do povo do DF através do BRB, é casado com a ex-deputada e ministra de Bolsonaro, Flávia (ex-Arruda). Coincidência? Sinais…”
O Banco Central acompanha de perto o caso. Segundo apurado, a autoridade monetária enviou técnicos experientes para avaliar os riscos da operação e examinar a real situação contábil do Master. A avaliação inclui testes de estresse em ativos que ficaram de fora da negociação, o que evidencia a cautela das autoridades diante da operação.
Para analistas do setor, o episódio escancara a fragilidade do sistema de governança de alguns bancos médios e levanta dúvidas sobre o critério adotado por estatais para investir recursos públicos em instituições privadas com histórico recente de risco elevado. A operação também reforça a percepção de que, no Brasil, o socorro financeiro costuma ser mais generoso com os donos do dinheiro do que com os cidadãos que o sustentam.