Skip to main content

João Pessoa 439 anos: em alto e bom som, música que vem da Capital rompe fronteiras 

A nova música paraibana traz um “caldeirão” de estilos e influências que misturam rock, reggae e pop com elementos da cultura regional, como o forró e o cordel. E o local que foi o “berço” da Paraíba, a Filipeia de Nossa Senhora das Nev

Por chicolobo

05/08/2024 12h50 Atualizado recentemente

A nova música paraibana traz um “caldeirão” de estilos e influências que misturam rock, reggae e pop com elementos da cultura regional, como o forró e o cordel.

E o local que foi o “berço” da Paraíba, a Filipeia de Nossa Senhora das Neves que hoje conhecemos como João Pessoa, revela em suas ruas e palcos artistas que carregam consigo as raízes e as ressignificam através de melodia e poesia.

Iago carrega “Jampa” no nome

O cantor, compositor e produtor Iago Ayres iniciou a carreira no forró, fez voz e violão em bares e hoje é o Iago D’Jampa, com um trabalho autoral que mistura rap e reggae.

“Eu já escrevia músicas na época do colégio, mas não gostava de divulgar. Foi tocando músicas de outras pessoas nos bares que comecei a pensar (em divulgar o trabalho). E aí que comecei a entrar mais no mundo do rap, do reggae, que traz uma mensagem mais forte e comecei a expressar isso em minhas letras”.

A primeira música de trabalho dele foi “Sereia”, com um clipe lançado em 2019. A pandemia, para ele, foi o “ponto de virada” na carreira. 

“Começou a ficar tudo mais profissional, comecei a investir mais no marketing, me caracterizar mais como artista. Comecei a estudar mais o mercado, exaltar a Paraíba nas minhas letras, porque aqui tem muito artista bom, com talento, mas que não tem uma inspiração, não existe um paraibano no cenário do rap e do reggae nacional. Sempre tive isso no meu coração, sempre quis dizer que sou daqui, que sou pessoense, que aqui também tem artista de verdade. Essa é minha luta”.

No ano passado, o trabalho de Iago rendeu a ele um prêmio no Festival da Música Paraibana, na categoria “Voto Popular”, com a música “Terra de mlk doido”, que segundo ele exalta a cultura e as origens da cidade, fundada às margens do Rio Sanhauá. 

“Nessa música, eu já comecei falando ‘nas águas do Sanhauá ele nascia, sua força ao Deus do mar o entregou’. Sempre exalto isso (as origens) nas canções, tanto culturalmente quanto musicalmente, tanto que Terra de mlk doido tem muita sanfona, algo que o rap e o reggae não tem hoje em dia, acho que isso é a nossa cara, a cara do pessoense, e quero transparecer isso”.

A arte como forma de transformação social

Iago levou sua arte em um projeto voltado para as escolas municipais de João Pessoa e em casas de menores infratores, fazendo palestras e levando a arte como forma de transformação da realidade.

“A gente conseguiu algo muito significativo pra mim que foi tirar um jovem talentosíssimo de uma casa dessas, levar pro estúdio e produzir ele. Incentivá-lo a ir pro lado da música e tirar ele um pouco da realidade de comunidade, dentro de um ambiente que levava aquilo (a violência) pra ele. Foi uma vitória pra ele ver que a música poderia sim trazer um futuro pra ele”.

Além da música, Iago também produziu um cordel, que para ele é uma cultura “que vem se perdendo com o tempo, muitas crianças nem conhecem”.

“O intuito é entregar esse cordel em escolas municipais, busco até apoio de empresários, prefeitura, pra conseguir entregar e levar a literatura de cordel. É feito para as crianças, conta a história de um menino que saiu do Sertão da Paraíba e enfrentou inúmeras aventuras e desafios em busca de um sonho”, explicou Iago.

Abrindo portas para o mundo

A banda Papangu foi formada em 2012 e teve seu primeiro álbum, “Holoceno”, lançado em 2021, tendo repercussão até no exterior, em blogs e sites especializados.


Confira também: .

O grupo está prestes a lançar um novo trabalho, “Lampião Rei”, que já conta com dois singles: “Oferta no Alguidar” e “Maracutaia”, que será lançado na próxima quarta-feira (7).

O Portal Correio falou com dois integrantes da banda: o tecladista e vocalista Rodolfo Salgueiro e o baixista e também vocalista Marco Mayer.

Eles explicaram um pouco das origens e influências da banda, que mistura o rock progressivo e o metal vanguardista com toques de música genuínamente nordestina, como o forró e o maracatu .

A gente sempre teve a ideia de fazer música autoral porque a gente tinha experiência de outras bandas, fazendo covers, mas faltava uma ‘válvula de escape’ para a gente usar um pouco da cultura, a música com a qual a gente cresceu ouvindo. Tentar fazer algum tipo de arte que se comunicasse com esse folclore do Nordeste

Marco Mayer

Escutar uma música nordestina é natural, não é um esforço pra gente parar e dizer ‘deixa eu escutar essa música aqui pra me influenciar’… Existe esse aspecto inerente nas nossas influências, na nossa história, mas também parte da banda um esforço de colocar isso nas composições, no imaginário das letras e na estética visual

Rodolfo Salgueiro

Sobre o álbum que está prestes a estrear, “Lampião Rei”, a ideia da banda foi reconstruir o “mito” de Virgulino Ferreira da Silva, cuja história, na visão de Marco, simbolizou a opressão do Estado no começo do século XX.

“O Lampião foi uma figura que surgiu em resposta à opressão das forças policiais no interior do Nordeste, como sintoma dessa opressão do Estado e dos latifundiários. Infelizmente, nos últimos anos, tem figuras que tentam pegar esse mito do Lampião e usam ela como se fosse um símbolo de heroísmo da força policial. É meio que pegar uma coisa e virar de cabeça pra baixo… acho que é uma perspectiva errada de ver como surgiu o cangaço, e acho que a resistência que a gente mostra é não só abertamente a temas da política mas também cultural, as influências estrangeiras, a imposição do inglês como a ‘língua’ do metal, que se usa muito e se espera sempre que uma banda cante em inglês”, disse o músico.

No momento, a banda projeta turnês pelo Brasil e já tem uma turnê pelo exterior confirmada, além de estar no line-up do festival Knotfest, promovido pela banda americana Slipknot – uma das mais conhecidas da cena do heavy metal mundial, nos dias 19 e 20 de outubro, em São Paulo.

Rodolfo espera que com os shows, o retorno do público seja positivo pelo fato da banda apresentar um show com muita variedade musical e elementos visuais, e por ser algo inovador no cenário do gênero.

“A composição da banda, a formação da banda é muito diferente, a instrumentação é um pouco atípica às vezes. O show é descontraído, divertido, a gente tenta fazer algo que seja visualmente prazeroso e a gente está curtindo o show em cima do palco. Eu estou ansioso pra dar um ‘susto’ no público do metal”.

Comentários (0)

Nenhum comentário ainda!

Your Email address will not be published.