Pode-se dizer que o 1º de abril é a data favorita do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), agora réu por tentativa de golpe de Estado, já que, mesmo antes de assumir o poder em 2018, era acostumado a mentir e espalhar groselhas por aí. Recentemente, o ex-capitão acrescentou mais uma série de mentiras à sua longa coleção.
Horas após ser formalmente acusado no STF, durante uma entrevista coletiva, o ex-presidente “reciclou” diversas desinformações sobre o sistema eleitoral brasileiro, os atos terroristas de 8 de janeiro e seu governo.
Em um padrão já repetido durante seu mandato — no qual afirmou que as urnas eletrônicas não são auditáveis e que teria ocorrido fraude nas eleições de 2018 —, Bolsonaro continuou a espalhar mentiras. De acordo com o contador de declarações do Aos Fatos, o ex-mandatário já espalhou fake news sobre o sistema eleitoral pelo menos 350 vezes.
Eleições
Bolsonaro citou sua tentativa de aprovação do voto impresso e afirmou que a contagem dos votos não seria pública. Desde a adoção das urnas eletrônicas no Brasil, em 1996, não houve comprovação de fraude ou qualquer indício de irregularidade. Além disso, as urnas são auditáveis, ao contrário do que o ex-presidente continua a afirmar.
Durante a coletiva, Bolsonaro também mencionou que o TSE teria interferido nas eleições de 2022 ao impedi-lo de divulgar vídeos críticos ao presidente Lula (PT) e ao ter, segundo ele, “censurado” a direita. O que o ex-presidente omite é que sua própria campanha solicitou a remoção de conteúdos adversários.
Segundo dados do tribunal, Bolsonaro pediu a retirada de sete conteúdos considerados “fake news” por sua campanha, e seis desses pedidos foram atendidos.
O governo Bolsonaro também foi acusado de usar a estrutura do Ministério da Justiça para interferir no resultado do segundo turno de 2022, com a Polícia Rodoviária Federal tentando dificultar o acesso de eleitores petistas aos locais de votação.
Pressão nas Forças Armadas
Quanto à pressão nas Forças Armadas, Bolsonaro admitiu ter discutido “hipóteses” com militares, mas negou ter pressionado as Forças Armadas a promover um golpe.
A declaração, no entanto, contradiz as investigações da Polícia Federal, que ouviram comandantes do Exército e da Força Aérea, os quais afirmaram que Bolsonaro perguntou se concordariam em usar as tropas em um golpe. O ex-comandante da Marinha, Almir Garnier, foi citado como favorável à intervenção militar.
8 de janeiro
Bolsonaro também disse que não foram encontradas armas no 8 de Janeiro, o que não é verdade. Depoimentos da CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito), que investigou os atos terroristas, comprovam que os manifestantes estavam armados com granadas, coquetéis molotov, barras de ferro e pedaços de madeira, além de usarem cadeiras e extintores de incêndio para invadir os prédios. Registros também mostram o roubo de armas do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) pelos golpistas.
Brasil e China
Bolsonaro também espalhou uma desinformação sobre o Brasil ter entregue urânio para a China. “O que que o Lula fez no final do ano passado? Teve aqui reunião do G20, [ele] assinou 37 memorandos e acordos com a China. Entre esses acordos, entregou o nosso urânio para a China”, afirmou Bolsonaro.
No entanto, não há qualquer negociação envolvendo urânio na lista dos acordos assinados durante a visita de Xi Jinping ao Brasil em novembro de 2024. O ex-presidente distorce a realidade ao se referir à venda da Mineração Taboca S.A. ao grupo chinês Nonferrous Trade Co., que foi uma transação privada, sem envolvimento do governo.
Pressa no STF
Além disso, Bolsonaro mentiu ao afirmar que o STF tinha pressa em julgá-lo. De acordo com dados do próprio STF, o processo que o tornou réu por tentativa de golpe teve uma tramitação mais lenta que a média dos casos semelhantes.
O prazo entre a abertura do inquérito, em 18 de dezembro de 2023, e a aceitação da denúncia, em 26 de março de 2024, foi de 464 dias, bem acima da média de 368 dias para processos da mesma natureza. Outros casos emblemáticos, inclusive, tiveram prazos bem mais curtos.
Bolsonaro, porém, insistiu: “Estão com pressa. Muita pressa. O processo contra mim avança a uma velocidade 14 vezes maior que o do Mensalão e pelo menos 10 vezes mais rápida que o de Lula na Lava Jato”, afirmou ele, um dia após o julgamento no STF.
– Estão com pressa. Muita pressa. O processo contra mim avança a uma velocidade 14 vezes maior que o do Mensalão e pelo menos 10 vezes mais rápida que o de Lula na Lava Jato.
– E o motivo? Nem tentam mais esconder. A própria imprensa noticia, abertamente e sem rodeios, que a… pic.twitter.com/JadGJP6FBR
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) March 26, 2025