Na madrugada deste sábado (8), Shara Fornalevicz Soares, 23 anos, perdeu o controle de seu carro, um Volkswagen Nivus, e bateu violentamente contra o alambrado que protege o Palácio do Jaburu, residência oficial do vice-presidente da República, Geraldo Alckmin.
Embriagada e sem habilitação, a jovem confrontou seguranças do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), tentou fugir pedindo um motorista de aplicativo e exigiu que policiais acionassem seus contatos influentes para evitar a prisão.
Levou gritos. Algemas. Mas saiu viva. Diferentemente de tantos jovens negros que sequer têm a chance de serem levados a uma delegacia. O caso expõe, mais uma vez, como o tratamento da Polícia Militar varia de acordo com a cor da pele e o CEP do envolvido.
Na delegacia, Shara se exaltou. Gritou. Xingou policiais. Resistiu às ordens. Pediu ajuda a um assessor parlamentar da Câmara dos Deputados, que, ainda durante a madrugada, enviou um emissário com um envelope contendo R$ 15 mil em espécie para cobrir a fiança. Assim, a jovem, que ostenta nas redes sociais viagens a Dubai e destinos paradisíacos no Brasil, saiu sem grandes consequências.
A abordagem contrasta com cenas que se repetem em operações policiais nas periferias do país. Jovens negros são alvejados por muito menos: um gesto brusco, um objeto no bolso, uma moto sem placa. Casos como o de Genivaldo de Jesus Santos, morto asfixiado dentro de uma viatura da PRF em 2022, ou de João Pedro Mattos, assassinado pela polícia dentro de casa aos 14 anos, ilustram como a presunção de periculosidade pesa para quem tem a pele escura.
Shara se recusou a fazer o teste do bafômetro, mas a embriaguez foi constatada pelos policiais. Mesmo alterada, conseguiu um desfecho sem violência. Já nas comunidades, a PM muitas vezes age primeiro e pergunta depois. O resultado são execuções disfarçadas de confrontos, operações que terminam com dezenas de corpos e investigações arquivadas sem punição.
O caso da jovem embriagada que derrubou a cerca do Palácio do Jaburu sem levar um tiro não é um ponto fora da curva, mas um reflexo do racismo estrutural e do privilégio de classe. Se o nome fosse outro, se a pele fosse mais escura, o título desta matéria poderia ser bem diferente.
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