Os 100 anos de Elizabeth Teixeira têm sabor especial para o audiovisual paraibano. A cinebiografia sobre a líder da Liga Camponesa de Sapé, na Paraíba, uma referência nacional na luta pela reforma agrária, está em andamento. O longa-metragem “Quem é Elizabeth?” levará para a tela dos cinemas a história da mulher que foi muito mais do que a viúva de João Pedro Teixeira, o Cabra Marcado Para Morrer, do documentário seminal de Eduardo Coutinho.
O filme é uma produção da Carambola Filmes e foi contemplado no edital federal Ruth de Souza 2023, cujos recursos são do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), voltado a obras dirigidas por mulheres cis ou transgênero estreantes e apresentadas por meio de produtoras brasileiras independentes.
“Realizar uma cinebiografia de uma personagem como Elizabeth Teixeira é um convite a mergulhar na história das lutas sociais brasileiras e um desafio excitante, principalmente porque o tema é muito latente ainda no Brasil. Sabemos que temos uma história de grande potencial dramático e, ao mesmo tempo, poética e apaixonante sob vários aspectos”, destaca a produtora executiva Drica Soares, da Carambola Filmes.
Para a diretora Inês Figueiró, que vai dirigir seu primeiro longa de ficção, “é fundamental levar ao público a história das nossas heroínas, das mulheres corajosas que mostram a força da voz e da ação feminina na sociedade brasileira. Elizabeth é uma dessas grandes mulheres e é uma honra poder estar nesse projeto”. Inês é co-diretora da série Travessia, do CineBrasil TV. Atua há quinze anos como roteirista. Entre seus trabalhos, está a co-roteirização do premiado longa Era o Hotel Cambridge.
O roteiro da cinebiografia de Elizabeth Teixeira, que completa 100 anos no próximo dia 13 de fevereiro, é assinado pelo trio de roteiristas formado pela jornalista Kátia Dumont, por Cecília Bilanski e pela diretora Inês Figueiró.
O longa “Quem é Elizabeth?” mostra diferentes momentos de uma das maiores lideranças camponesas do Brasil. Uma cinebiografia exige um trabalho muito criterioso tanto da pesquisa como do roteiro. “Nosso grande desafio é entrar na pele da Elizabeth e conseguir traduzir toda a sua complexidade e as dificuldades para continuar viva depois de tudo a que foi submetida”, explicou Bilanski.
Elizabeth não só assumiu a luta no campo quando João Pedro Teixeira foi assassinado, como viu sua vida completamente transformada com a chegada da ditadura cívico-militar em 1964. Ameaçada de morte, precisou fugir. E por 17 anos, Elizabeth viveu na clandestinidade no interior do Rio Grande do Norte, na companhia de dois dos seus 12 filhos. Quase duas décadas longe de sua família.
A ideia de levar a vida de Elizabeth para o cinema nasceu há quase dez anos, quando Kátia Dumont, atuando numa emissora local, entrevistou Elizabeth em sua casa. Depois da conversa, não teve dúvida: havia muito o que falar sobre aquela “mulher marcada para viver”.
“Falar de Elizabeth é falar de uma vida atravessada pela violência no campo e a violência do Estado. Violência que afetou profundamente ela e toda a sua família”, afirma Kátia, que também é pesquisadora do longa.
Além da seleção no edital Ruth de Souza, o projeto da cinebiografia de Elizabeth Teixeira foi selecionado para outros ambientes de desenvolvimento e ampliação de projeto. Entre eles, o Laboratório de Desenvolvimento de Projetos Audiovisuais (W.R_LAB): Módulo Longa-Metragem, da Fundação Cultural de João Pessoa (Funjope) e Prefeitura Municipal de João Pessoa, em 2020, e da Mentoria em Roteiro “Paradiso Multiplica”, em 2022, uma parceria do II W.R_Lab e do Projeto Paradiso.