Neste fim de semana, circularam — e continuam circulando — diversos vídeos e cortes de entrevistas do ex-deputado federal Julian Lemos, que foi um dos principais articuladores da campanha do então candidato Jair Messias Bolsonaro no Nordeste e em parte do Norte, nas eleições de 2018.
Na onda bolsonarista, Julian foi eleito com 71.899 votos pela Paraíba. Contudo, durante o primeiro mandato de Bolsonaro, a relação entre Julian e a família presidencial começou a se desgastar, especialmente com o filho “número três”, o vereador carioca Carlos Bolsonaro.
Em 2022, Julian tentou a reeleição para deputado federal, mas não obteve sucesso, ficando como primeiro suplente. Desde então, tem adotado uma postura crítica — para muitos, até explosiva — contra a família Bolsonaro. Suas falas, disponíveis no YouTube, têm causado polêmica, especialmente pela forma direta e por parecerem carregar o peso de quem viveu por dentro o chamado “bolsonarismo raiz”.
Outro personagem que percorreu trajetória parecida é Alexandre Frota. Ex-ator, Frota entrou para a política também embalado pela onda bolsonarista de 2018, elegendo-se deputado federal por São Paulo. No entanto, seu rompimento com Bolsonaro foi rápido e ruidoso. Tornou-se uma das vozes mais ácidas contra o ex-presidente, com declarações que expuseram bastidores, bastidores esses que, não raro, coincidem com os relatos de Julian Lemos.
Em 2024, Alexandre Frota foi eleito vereador pelo município de Cotia (SP), pelo PDT, com 2.893 votos. Sua eleição marca uma tentativa de reposicionamento político em nível local, mas sem abandonar o tom combativo que tem caracterizado sua atuação pública desde a ruptura com o bolsonarismo.
Quando duas figuras que participaram do “coração do sistema” — como Julian e Frota — começam a falar com vozes semelhantes, é sinal de que há algo mais profundo para ser ouvido.
As entrevistas de Julian têm conteúdo denso. Para quem analisa a política com um olhar técnico e não partidarizado, há muito ali a ser considerado. Sua motivação para 2026 ainda não está claramente anunciada, mas para quem compreende o xadrez político nacional, é possível vislumbrar que ele busca reposicionar-se no tabuleiro — talvez rumo ao centro, talvez até à esquerda.
Julian não me parece estar mentindo. Suas falas têm mais tom de desabafo do que de invenção. Ele fala como quem passou por corredores escuros e apertados do poder — e agora resolveu acender a luz.
O bolsonarismo ainda está vivo. A questão é: até onde Julian Lemos suportará a retaliação da família Bolsonaro e de seus fiéis seguidores — os “bolsominions”?
Elcio Nunes
Cidadão Brasileiro