À medida que o cerco jurídico se fecha em torno do ex-presidente Jair Bolsonaro, cresce a preocupação entre aliados com a possibilidade de delações premiadas por parte de figuras próximas. Entre os nomes investigados pela trama golpista, muitos ainda mantêm lealdade pública ao ex-chefe do Executivo, mas são vistos como potenciais delatores caso as apurações avancem e o risco de prisão aumente.
Um dos grupos mais sensíveis é o dos ex-ajudantes de ordens do Gabinete de Segurança Institucional (GSI). Esses militares acompanharam Bolsonaro durante todo o seu mandato e têm conhecimento detalhado sobre sua rotina e interlocuções durante o período investigado. Segundo o jornalista Guilherme Amado, generais próximos do ex-presidente têm visto com preocupação a possibilidade de esses ex-ajudantes aderirem à colaboração premiada.
Um nome que entrou no radar é o do deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante o governo Bolsonaro. Além do plano golpista, a Polícia Federal investiga Ramagem por um esquema de espionagem ilegal com uso da Abin para monitorar autoridades. Caso as provas se consolidem, sua situação pode se tornar insustentável, o que o colocaria como um possível colaborador, mesmo que, até o momento, ele mantenha alinhamento com Bolsonaro.
A PF também tem intensificado as investigações contra o general Braga Netto, candidato a vice na chapa de Bolsonaro em 2022. Embora se mantenha leal ao ex-presidente, o nome do militar aparece com frequência nos bastidores das investigações, e interlocutores do STF avaliam que, caso o ex-ministro da Defesa se sinta ameaçado, poderia buscar uma saída negociada.
O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, já firmou acordo de delação premiada. A colaboração de Cid é considerada um divisor de águas na investigação e abriu caminho para novas frentes de apuração, inclusive contra militares que ainda não romperam com o núcleo bolsonarista.
A expectativa é que, conforme avançarem os processos e surgirem novas provas, o isolamento político e jurídico de Bolsonaro aumente, criando condições para que antigos aliados repensem sua fidelidade.
Fontes ligadas à Polícia Federal e ao STF indicam que o foco agora é ampliar a base de informações por meio de depoimentos e provas documentais que possam sustentar futuras ações penais. O medo de prisão e o desgaste público são os principais gatilhos para possíveis colaborações.
Ainda não há confirmação oficial de novos delatores além de Mauro Cid, mas a movimentação nos bastidores indica que a possibilidade está no radar da defesa de vários investigados. O avanço das denúncias e o julgamento desta semana no STF podem acelerar esse processo.