Ainda não está claro o que Donald Trump revogou nestes 100 dias de governo, a ponto de acabar com a ordem econômica global vigente e impor uma nova. Os recuos feitos são suficientes para levantar dúvidas sobre a capacidade do governo dos Estados Unidos de revogar tudo.
A impressão é de que o tarifaço e tudo o que veio junto não passam de esperneio de Trump pela perda crescente de hegemonia global, sem que suas medidas indiquem condições para recuperá-la.
A disparada dos preços do ouro e a queda do valor dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos expõem rachaduras no nível de confiança na política econômica americana e na solidez do dólar.
Não se sabe até que ponto as idas e vindas de Trump serão capazes de tirar a relevância do dólar. Foto: Tom Pennington/AFP
Como se acomodarão as coisas ainda é incógnita. Lembram a situação de transição ao longo do período do Imperador Adriano (117 a 138 depois de Cristo) em que o politeísmo não servia mais para explicar o mundo e a crença no novo Deus ainda não havia se consolidado.
O que poderia substituir o dólar como meio de pagamento e como reserva de valor no mundo, supondo que Trump não voltará atrás no essencial?
Por enquanto não há nada que possa exercer esse papel. Mesmo derretendo-se todos os anéis, joias e coroas dos reis, a quantidade de ouro no mundo não é grande o suficiente para que o padrão-ouro possa ser reimplantado.
E as demais moedas, como o yuan da China, o euro e as criptomoedas não têm densidade nem confiabilidade suficientes para tomar o lugar do dólar como meio de pagamento, unidade de conta e reserva de valor.
É essa certeza de que o dólar continua indispensável, apesar de tudo, é justamente o que aumenta a incerteza global – e não o contrário.