João Marcello Bôscoli, 54, filho da cantora Elis Regina e produtor musical, prepara o evento Elis 80 para celebrar o 80º aniversário da mãe, no Espaço Unimed, em São Paulo, nesta sexta (28). Como houve o anúncio de que haveria o uso de inteligência artificial na celebração, muita gente imaginou que veria um holograma da artista no espetáculo.
Porém, o empresário descartou o uso da tecnologia ao ser questionado pela CNN sobre isso — tanto para o evento comemorativo, quanto para outras apresentações artísticas. Ele também relembrou de uma empresa que ofereceu esse tipo de serviço há alguns anos, mas a família não gostou do resultado.
“A gente nunca usou e nunca usará, no catálogo da Elis, as ferramentas de inteligência artificial para a área criativa“, afirmou João Marcello sobre o uso de holografia em shows com os produtos disponíveis no mercado atualmente.
Segundo ele, a família enxergou uma falta de emoção nos hologramas e, por isso, escolheu não usar esse tipo de tecnologia. “O olhar não está ali”, pontuou João à CNN.
Ainda, o empresário afirmou não ter problema em criar um holograma com o consentimento dos irmãos, Maria Rita, 47, e Pedro Mariano, 49, e dos futuros netos de Elis Regina — com uma condição. “Só no dia em que o olhar estiver ali, mas isso não aconteceu e não aconteceria“, completou.
O uso da inteligência artificial no evento Elis 80 ocorreu por outros meios: na restauração do material da cantora, como na limpeza de áudios, entrevistas e apresentações antigas da artista. Com a ferramenta tecnológica, tiraram os ruídos e isolaram a voz da intérprete brasileira em músicas e entrevistas. “Se você quiser ver a Elis, vai ter que fechar os olhos”, completou.
Comercial da Volkswagen

Apesar de descartar o uso de holografia nos shows, a família de Elis Regina usou as ferramentas de deepfake e inteligência artificial no comercial “Gerações”, para comemorar os 70 anos da concessionária Volkswagen no Brasil, em 2024. No vídeo, a cantora cantava o hit “Como Nossos Pais” ao lado da filha, Maria Rita.
Na época, o comercial emocionou o público, mas também teve quem criticou o uso da ferramenta nas redes sociais. Ao ser questionado sobre as críticas, João Marcello descartou uma possível divisão de opiniões, mas relembrou a repercussão do comercial.
“Acho que houve uma oposição, sim, mas isso se deu numa microparcela das pessoas. Teve gente que queria entrar no Conar (Conselho Nacional Autorregulamentação Publicitária) dizendo ser propaganda enganosa, porque a Elis não está viva. Achei um argumento risível, mas respeito a opinião”, disse, ao relembrar que o órgão abriu uma representação ética contra propaganda da Volkswagen com Elis Regina.
Para João, a repercussão do anúncio gerou o primeiro debate adulto sobre os limites da inteligência artificial. Segundo o empresário, ele deu mais de 50 entrevistas para os mais diversos veículos de comunicação, como The Guardian e New York Times.
“Achei o máximo [a repercussão]. Outro micromilagre do comercial é o público se emocionar com um anúncio de televisão. Eu também me emocionei e não me emociono com anúncio nenhum. É uma coisa que a Elis provocou”, comentou.
O sucesso do comercial também impactou a audiência de Elis Regina, garantiu João. “Percebo isso no faturamento, que aumentou sensivelmente. A audiência entre as pessoas mais novas também cresceu”, finalizou João Marcello.
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