Ao final de uma parte improvisada em seu discurso na Assembleia Geral das Nações Unidas, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse ter encontrado o presidente Luiz Inácio Lula da Silva rapidamente e que ambos concordaram em um encontro na próxima semana.
“Estava andando e o líder do Brasil também estava andando. Ele me olhou, eu o olhei, e nos abraçamos”, disse. “Concordamos que vamos nos encontrar na próxima semana, não tivemos muito tempo para falar. Algo como 20 segundos. Mas conversamos e concordamos em nos encontrar”.
Apesar do tom relativamente amistoso, Trump ressaltou que o Brasil enfrenta tarifas “em resposta aos esforços sem precedentes de interferir nos direitos e liberdades de nossos cidadãos americanos, com censura, repressão, corrupção judicial, e mirando críticos políticos”.
“Como presidente, vou sempre defender nossa soberania nacional e o direito de cidadãos americanos. Sinto muito em dizer que o Brasil está indo mal e vai continuar indo mal. Eles só podem ir bem se estiverem trabalhando conosco”, disse.
As falas se dão em meio à deterioração da relação entre Lula e Trump. O republicano acusa o governo brasileiro e o Supremo Tribunal Federal (STF) de liderar uma “caça às bruxas” a Bolsonaro, recentemente condenado a 27 anos e três meses de prisão pelo envolvimento na trama golpista. O ex-presidente foi considerado culpado por liderar ou integrar organização criminosa armada, atentar violentamente contra o Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado por violência e grave ameaça e deterioração de patrimônio tombado.
Em seu discurso na ONU, Lula não citou nominalmente Trump, mas criticou o uso “medidas unilaterais” e destacou que “nossa democracia e soberania são inegociáveis” e qualquer “agressão contra o poder Judiciário é inaceitável”.
Em retaliação ao trâmite judicial envolvendo Bolsonaro, o líder americano taxou em 50% os produtos brasileiros; sancionou o ministro Alexandre de Moraes, do STF, e sua esposa, Viviane Barci de Moraes, através da Lei Magnitisky, usada para punir estrangeiros acusados de violações graves de direitos humanos ou de corrupção em larga escala; e cancelou o visto de vários membros do STF, com exceção de Kassio Nunes Marques e André Mendonça, indicados por Bolsonaro, bem como Luiz Fux, que votou contra a condenação do ex-presidente.
Nesta segunda, poucas horas antes do início dos trabalhos na Assembleia, o governo brasileiro disse que sanções são uma “tentativa de ingerência indevida em assuntos internos brasileiros”, feita a partir de “inverdades”, e que “o Brasil não se curvará a mais essa agressão”.
“O recurso do governo Trump à Lei Magnitsky, no caso do Brasil, uma democracia que se defendeu, com êxito, de uma tentativa de golpe de Estado, não apenas é uma ofensa aos 201 anos de amizade entre os dois países. Representa também a politização e o desvirtuamento na aplicação da lei, como já manifestado recentemente por um de seus co-autores, o deputado James McGovern”, diz o texto publicado pelo Itamaraty.
Em entrevista ao jornal americano The New York Times em agosto, Lula definiu como “vergonhoso” o método de Trump de lançar ameaças a outros países através das redes sociais, criticando: “Quando você tem um desentendimento comercial, um desentendimento político, você pega o telefone, marca uma reunião, conversa e tenta resolver o problema. O que você não faz é cobrar impostos e dar um ultimato”. Embora tenha afirmado que o Brasil estava a aberto a negociações, destacou que não o faria “como se fosse um país pequeno contra um país grande”.
O petista voltou a criticar o tarifaço de Trump em um artigo de opinião publicado no NYT neste domingo, 14. Com o título “A democracia e a soberania brasileiras são inegociáveis”, Lula disse que decidiu escrever o ensaio para “estabelecer um diálogo aberto e franco com o presidente dos Estados Unidos”. No texto, ele salientou que “recorrer a ações unilaterais contra Estados individuais é prescrever o remédio errado” e que “o multilateralismo oferece soluções mais justas e equilibradas”.
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