Radicada na Islândia há mais de 10 anos, a paraibana Anne Helenne, de 37 anos, está vivendo um drama desde que conseguiu resgatar os dois filhos, de 6 e 10 anos, que ficaram mais de 3 meses sob a tutela do pai sem autorização legal.
Ela só conseguiu estar com as crianças novamente na última segunda-feira (17), com a ajuda de um casal de amigos, depois de uma “operação de resgate”, que, segundo ela, foi digna de cena de filme.
Agora, mesmo com a guarda das crianças, ela teme viver novamente o drama da separação, já que, segundo ela, as autoridades islandesas foram coniventes com as atitudes do pai e a legislação não garante segurança a ela e as crianças.
Fechadura trocada e ida para abrigo
Anne explicou que ela e o homem, que é islandês, estão passando por processo de divórcio há 1 ano. Mesmo após se separarem, eles estavam dividindo a mesma casa para não mudar os filhos de localização, mas um dia quando voltou do trabalho, tentou entrar em casa mas não conseguiu porque as fechaduras tinham sido trocadas.
“As crianças estavam na casa da mãe dele. Então passei em casa primeiro, fui tentar abrir a casa e as fechaduras estavam trocadas e eu sem entender. Fui direto na casa da mãe dele, pegar as crianças e perguntei se ela sabia por que as fechaduras tinham sido trocadas. Ela disse: ‘sim, eu sei’. E eu disse: ‘mas a casa é minha’. E ela disse: ‘o advogado vai falar com você’. Peguei as crianças e voltei para a capital, atrás de ajuda”
A paraibana foi para um abrigo de mulheres em situação vulnerável na capital islandesa, Reykjavik, com os filhos. Durante esse período, a Justiça decidiu que as crianças iriam morar com a mãe e veriam o pai duas vezes por mês.
Anne entregou as crianças para passarem o fim de semana com o pai no dia 6 de dezembro, uma sexta-feira, com a promessa de que elas retornariam para casa na noite do domingo (8). Não foi o que aconteceu.
Eu liguei e nada, mandei mensagem e nada. Tentei ligar para as crianças, já que elas tem telefone, ele cortou meu contato com as crianças. Falei com meu advogado e disse que ele não me entregou as crianças de volta e ele disse para eu ligar para a polícia. A polícia tentou falar com ele (o ex-marido) e nada dele atender. Aí falaram comigo dizendo: ‘você tem como comprovar que as crianças estão em situação de perigo?’. Eu disse que não, e eles disseram que não tinham como fazer nada. Eu disse que tinha documentos (comprovando que as crianças deveriam estar com ela) e disseram que não tinham como fazer nada
Resgate ‘cinematográfico’
Depois de 3 meses e 10 dias nessa situação, Anne foi até a cidade onde moravam e, com a ajuda de um casal de amigos islandeses, buscou as crianças na escola na última segunda-feira (17). O que se seguiu, segundo o relato de Anne, lembra uma cena de filme:
“Quando estávamos voltando, na estrada, alguém avisou a ele que eu tinha pego as crianças na escola. A gente estava em dois carros – eu, no carro da frente com as crianças, e o casal amigo meu no carro atrás. Ele, por achar que eu estava com o casal de islandeses, veio em alta velocidade, correu atrás desse pessoal achando que eu estava dentro do carro e quando viu que eu não estava, continuou em alta velocidade, ao telefone. O casal me avisou que ele estava vindo em alta velocidade e que eu ligasse para a polícia. Eu liguei, eles ligaram também. A polícia da cidade, que conhece ele, não fez nada. Ele veio atrás da gente colocando a vida das crianças em risco. A sorte foi que a polícia de outra cidade veio até a gente e antes dele nos encontrar com a gente, a polícia chegou e ficou com a gente, e ele passou direto”
Agora, Anne está com as crianças em um local seguro, com monitoramento e fechaduras acionadas por código, mas ainda assim não se sente segura e teme que o pai leve as crianças a qualquer momento.
Não dá pra se sentir segura nessa situação. A pessoa já provou várias vezes que não está cumprindo a lei e me deixa altamente surpresa como que o país se comporta nessa situação. É uma situação muito estranha de se compreender, por que tanta coisa é feita e eu que tenho que estar em casa, escondida
Anne afirmou que não pretende deixar o país com as crianças e critica a conivência das autoridades islandesas com a atitude do pai. Na visão dela, o governo islandês só começou a agir depois que ela expôs o caso nas redes sociais.
“Um pessoal da Proteção da Criança fez uma entrevista com as crianças, porque ele está dizendo que eu não tenho sanidade mental, pelas coisas que estou falando na internet. Eles viram que elas estão bem, estão felizes. É incrível que em um país tão desenvolvido acontece essa situação, com várias pessoas, e a solução do problema não é me esconder. Corri o risco de ir lá, pegar as crianças, ele fez isso tudo e continua aí, é uma coisa muito difícil de entender”.
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