O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) adiantou neste sábado (29/3) que terá um telefonema com o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, na próxima semana, para tratar da guerra daquele país com a Rússia.
“Essa semana tem um telefonema do Zelensky para mim. Eu vou conversar com o Zelensky. Eu espero que agora ele esteja preocupado com a paz, porque até então ele não estava. Até então, ele achava que o Putin tinha que aceitar o acordo do jeito que ele queria. E não é assim”, disse Lula em coletiva de imprensa em Hanói, no Vietnã.
Ao defender o papel do Brasil de intermediador, o petista disse que seu governo fez “crítica contundente” à invasão territorial da Rússia na Ucrânia e, ao mesmo tempo, se colocou à disposição com a China para negociação da paz. Ele voltou a defender que é preciso colocar o russo Vladimir Putin junto com Zelensky na mesa.
“Ninguém é o senhor da razão que pode impor sua vontade aos outros. Se os dois tiverem dispostos a negociar, será muito melhor para Ucrânia, muito melhor para Rússia, muito melhor para Europa e muito melhor para o mundo”, disse Lula.
O petista ainda reforçou que o Brasil é exemplo no mundo de país que não tem contencioso. “Nosso lema é paz e amor, nosso lema é desenvolvimento, é crescimento econômico, é a tentativa de fazer com que o mundo compreenda que a guerra só destrói e que a paz constrói”, disse.
Lula também afirmou que pretende ir à Rússia em 9 de maio para evento alusivo aos 80 anos da vitória da Segunda Guerra Mundial.
Enquanto mantém bom vínculo com Putin, a relação de Lula com Zelensky é conturbada desde o início. Em janeiro, durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos, Zelensky afirmou que o Brasil perdeu a oportunidade de atuar como mediador no conflito entre seu país e a Rússia. O ucraniano acusou o país de priorizar alianças com a Rússia, membro do Brics, e questionou o interesse de Brasil e China em liderar negociações.
O presidente brasileiro chegou a declarar que a Ucrânia também tinha responsabilidade pela guerra e criticou os Estados Unidos e a União Europeia por, segundo ele, contribuírem para a continuidade do conflito.
Lula defende Trump
Sobre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, Lula elogiou a postura do republicano de intermediar o conflito. “Veja como eu sou um rapaz de bom senso. Eu poderia ser radical contra o Trump, mas na medida que o Trump toma decisão de discutir a paz entre Rússia e Ucrânia, que o Biden deveria ter tomado, eu sou obrigado a dizer que, nesse aspecto, o Trump está no caminho certo”, afirmou Lula.
Desde que Trump iniciou as negociações do cessar-fogo temporário da guerra entre Rússia e Ucrânia, os dois países começaram a articular os seus termos.
Após a Ucrânia ter aceitado integralmente a proposta, a Rússia se comprometeu, inicialmente, a cessar os combates no Mar Negro. Não se sabe quando o acordo entrará em vigor.
O presidente russo, em conversas com Trump, destacou que só cumpriria o acordo depois que as múltiplas restrições sobre suas exportações agrícolas, impostas pelos Estados Unidos e pela União Europeia, fossem removidas.
No entanto, já de cara, os países interpretaram o cessar dos combates no Mar Negro de forma distinta. A Rússia o enxergou como uma forma de reviver um acordo apoiado pela ONU de 2022, dando a ela algum controle sobre o transporte comercial pelo mar.
Já a Ucrânia insistiu que não permitiria que a marinha russa retornasse ao oeste do Mar Negro, usado pelo país como principal rota de exportação marítima.
Apenas um dia após o acordo ser firmado, ambos os lados trocaram acusações de violações da trégua. A Ucrânia relatou um ataque à cidade portuária de Mykolaiv, e Moscou disse que abateu dois drones ucranianos sobre o Mar Negro.