O escândalo revelado pela revista piauí sobre os desmandos e as extravagâncias da gestão Ednaldo Rodrigues à frente da CBF é devastador. É a prova cabal de que a entidade que deveria zelar pelo futebol brasileiro se transformou, mais uma vez, num balcão de negócios pessoais, favores políticos e luxos bancados com dinheiro do esporte.
E, diante da gravidade das denúncias — que incluem censura à imprensa, desperdício milionário de recursos e absoluto desprezo pela estrutura do futebol nacional —, o silêncio de parte significativa da imprensa esportiva é tão escandaloso quanto os atos do próprio dirigente.
Enquanto seis jornalistas da ESPN — Gian Oddi, Paulo Calçade, Victor Birner, Pedro Ivo Almeida, Dimas Coppede e William Tavares — foram afastados pela emissora após um Linha de Passe crítico à gestão de Ednaldo, atendendo a pressões da CBF em plena negociação de direitos da Série B, a maioria dos programas esportivos dos canais Globo optou por fingir que nada aconteceu.
Redação SporTV, Globo Esporte, Seleção SporTV: todos silenciaram. Nenhuma linha, nenhuma análise, nenhuma indignação. Um pacto de omissão que envergonha o jornalismo esportivo brasileiro.
Onde estão André Rizek, Marcelo Barreto e tantos outros que se apresentam como vozes da crítica e da razão no debate esportivo? Por que não defenderam publicamente os colegas censurados? Por que evitaram discutir uma reportagem que detalha como Ednaldo bancou passagens em primeira classe, hotéis cinco estrelas e diárias milionárias para 49 pessoas sem vínculo com a CBF durante a Copa do Mundo?
Por que não se escandalizam com o presidente que morou nove meses no Grand Hyatt com tudo pago pela entidade? Com os salários dos presidentes de federação saltando para R$ 215 mil? Com o “décimo sexto salário”? Com as dívidas protestadas mesmo diante de uma receita bilionária?
Rizek, aliás, foi bastante cobrado ontem em suas redes sociais. Mas, aparentemente, não tinha nada para falar.
Enquanto Ednaldo promove banquetes às custas do futebol, a arbitragem nacional está sucateada. Árbitros sem treinamento adequado, afastamentos em massa por erros técnicos, campeonatos marcados por polêmicas grotescas. O VAR é um caos, a credibilidade está no chão — mas tudo isso parece pequeno diante da conveniência de não contrariar um presidente que tem fama de vingativo e influência sobre contratos bilionários de transmissão.
Essa combinação de poder político, subserviência institucional e silêncio midiático é mortal para o futebol brasileiro. A CBF virou uma ilha de privilégios, cercada por bajuladores e blindada por parte da imprensa. A poucos interessa confrontar um sistema viciado que se retroalimenta com silêncio, medo e conveniência.
A omissão de quem tem espaço, voz e responsabilidade é uma escolha. E, nesse momento, os que se calam diante da censura, da corrupção e do abuso de poder se colocam do lado errado da história do nosso futebol. O torcedor merece mais. O futebol brasileiro merece mais. Mas enquanto Ednaldo desfila com sua corte — e jornalistas fingem que não veem —, seguimos reféns de um jogo que acontece fora das quatro linhas, onde quem perde é sempre o esporte.
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