LOS ANGELES – O secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, demonstrou “abertura importante” ao diálogo sobre as tarifas comerciais de Donald Trump, disse o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ao Estadão/Broadcast. Haddad se encontrou neste domingo com o secretário em Los Angeles, nos EUA.
“Obviamente que não foi uma reunião para se tomar decisões, foi reunião para abrir diálogos para se tomar decisões”, afirmou o ministro.
O encontro durou cerca de 40 minutos e inicialmente não estava previsto na agenda oficial da viagem de Haddad à Califórnia, onde tem eventos marcados em Los Angeles e São Francisco.
“Foi uma conversa inicial muito produtiva. A postura do secretário foi bastante frutífera e ele demonstrou abertura para um diálogo bastante importante”, completou Haddad.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, cumprimenta o secretário do Tesouro, Scott Bessent, durante reunião bilateral nos Estados Unidos Foto: Diogo Zacarias / Ministério da Fazenda
Na questão tarifária, Haddad ressaltou ter enfatizado ao secretário dos EUA que a América do Sul é deficitária no comércio em relação aos Estados Unidos. Assim, não faz sentido taxar os países da região da mesma magnitude que outras partes do planeta, que têm superávit comercial com a economia americana.
“Estamos em uma mesa negociando”, disse Haddad, ressaltando que os termos de entendimento passam pelo Mercosul, Brasil e América do Sul. “Nos colocamos à disposição para mediar relações, que às vezes o Brasil pode ter papel produtivo em relação aos países sul-americanos e mesmo em relação aos Brics.”
Além de tarifas, Haddad disse que a conversa foi de “alto nível” e tratou de outros assuntos, como a questão das vantagens comparativas que o Brasil tem para a atração de investimentos na área de energia verde e de minerais críticos.
Investimentos em data centers
Outro tema abordado entre as duas autoridades foi a nova política do governo Lula de buscar investimentos em data centers. Haddad disse que foi à Califórnia para sentir a temperatura das gigantes de tecnologia sobre o plano nacional do governo brasileiro.
A América do Sul quer se colocar como um polo seguro para atrair estes investimentos, que estão sendo disputados mundialmente por causa de inteligência artificial (IA).
“Vim aqui um pouco na esteira da conclusão do plano nacional de data centers, que é uma política que o Brasil vai encaminhar para o Congresso”, disse Haddad, que tem reuniões entre segunda-feira, 5, e terça-feira, 6, com o comando de três gigantes de tecnologia, Google, Amazon e Nvidia.
Segundo o ministro, ainda não há uma data definida para o governo encaminhar o texto do plano nacional ao Congresso. Antes de chegar a uma versão final, a ideia é ver a reação das “big techs” sobre o tema. “Vim aqui sentir um pouco o pulso.”
Os data centers também foram da tema da conversa entre Haddad e Bessent.
“E uma das coisas que chamei atenção é o quão segura é a região em termos globais para ser um polo de processamento de dados de alta velocidade”, disse Haddad após a conversa. “Temos energia limpa, sítios específicos, cabeamento bastante satisfatório já no momento, região cabeada com Europa e Estados Unidos”, completou.
A grande vantagem do Brasil é aproximar os data centers das fontes de energia renováveis, porque estes centros de dados precisam de muita energia e de estabilidade de oferta. “As big techs elas querem é a energia renovável.”
“Pode se interessar a muito de nossos parceiros que a América do Sul se apresente como polo natural e seguro para data centers”, disse Haddad.
“Quando você cria o ecossistema, o ambiente de negócios, o interesse que é grande vai aumentar”, disse Haddad. Há uma fila de pedidos para instalar data centers no Brasil, que chega a 12 mil megawatts, quase 15 vezes mais a capacidade de hoje, de 750 megawatts.
“O interesse já está manifesto, basta agora que nós possamos acertar o passo para que estes investimentos, tanto no verde quanto no digital, se combinem virtuosamente para produzir o melhor resultado para o Brasil”, afirmou Haddad.
Em Los Angeles e São Francisco, Haddad vai falar com economistas e investidores. Perguntado se vai tratar da questão fiscal, o ministro disse que o interesse maior aqui é a questão da energia limpa.