Na primeira metade da década de 1990, tive o privilégio de cruzar caminhos com uma figura icônica do rádio paraibano: Gutemberg Cardoso. Líder incontestável de audiência, ele comandava as tardes da Difusora Rádio Cajazeiras AM com seu programa Boca Quente, enquanto eu, um jovem estudante universitário em Campina Grande, começava a me aventurar no universo da comunicação. Foi assim que nossa história se entrelaçou, marcada por aprendizados, aventuras e a magia do rádio.
Tudo começou com observação. Eu acompanhava atentamente os editoriais de Cardoso, admirando sua habilidade única de conectar-se com o público. Aos poucos, fui ganhando espaço na emissora, fazendo pequenas participações até me tornar parte integrante de um evento que, inicialmente, parecia modesto: o Debate de Carnaval. O que começou como uma solução para preencher lacunas na grade de programação transformou-se em um marco, consolidando-se como a voz que norteou o crescimento do que hoje é considerado o maior carnaval da Paraíba, o de Cajazeiras.
Gutemberg Cardoso tinha uma visão inovadora. Ele tirou a rádio do estúdio e a levou para as praças e casas de amigos durante as manhãs de carnaval. Eu estava sempre lá, dando minha opinião e participando de um formato de programa que marcou época. Aqueles momentos ainda ecoam na memória de quem viveu essa experiência única.
Transmissão da Micarande, carnaval fora de época de Campina Grande
Mas o ápice dessa jornada foi a transmissão ao vivo da Micarande, o famoso carnaval fora de época de Campina Grande. Para mim, era a combinação perfeita: como estudante sem muitos recursos, organizava o credenciamento da emissora e transmitia o evento até às 23h ao lado de colegas dedicados. Depois, era só festa, ao som dos maiores nomes do axé music da época. Aprendizado e diversão caminhavam juntos. Quer coisa melhor?
Nestas transmissões de eventos, cabia de tudo. Artistas, políticos, personalidades, empresários – todos encontravam espaço nos microfones da Difusora, que alcançava todo o Nordeste. Além disso, mergulhamos no mundo do show business, promovendo eventos, festas, bailes, vaquejadas e, pasmem, até rodeios. Cada experiência era uma nova lição, um novo capítulo na minha formação.
E, claro, não faltaram aventuras no lado social. Muitas delas, como o próprio Gutemberg diria, são “impublicáveis”. Mas todas contribuíram para construir uma história rica em memórias e amizades.
Gutemberg e a contribuição para a radiofonia paraibana
Hoje, ao celebrar os 50 anos de rádio de Gutemberg Cardoso, não podemos deixar de reconhecer o seu legado. Ele não apenas transformou a comunicação radiofônica na Paraíba, mas também inspirou gerações de comunicadores, incluindo a mim. Seu talento, visão e paixão pelo rádio continuam vivos, ecoando nas ondas que atravessam o Nordeste.
Viva longa, Seu Gugu! E que os próximos 50 anos sejam tão impactantes quanto os que já passaram. O rádio, a Paraíba e todos nós somos gratos por sua dedicação e por nos permitir fazer parte dessa história.
Christiano Moura é jornalista, editor do blog Coisas de Cajazeiras