A atriz trans Ayla Gabriela foi anunciada como a intérprete de Geni no longa-metragem Geni e o Zepelim, que vai adaptar para o cinema a canção de Chico Buarque. A escalação vem após o filme receber críticas por escalar Thainá Duarte, uma mulher cisgênero, para o papel.

A atriz Ayla Gabriela, intérprete de Geni em ‘Geni e o Zepelim’ Foto: Migdal Filmes/Divulgação
O projeto será a estreia de Ayla Gabriela em um longa-metragem. Cineasta, atriz, dançarina e performer, ela já protagonizou o curta Pássaro Memória (2023), de Leonardo Martinelli, dirigiu e atuou no curta A Corpa Fala (2020) e integrou o elenco da série Santo (2023). Além disso, já foi premiada duas vezes como melhor atriz, no Festival de Cinema de Xerém e no Festival de Barra Mansa.
De acordo com a sinopse, o filme vai contar a história de uma prostituta de uma cidade ribeirinha no coração da floresta amazônica. Amada pelos desvalidos e odiada pela alta sociedade, ela vê sua cidade invadida por tropas de um tirano Comandante (Seu Jorge), que chega voando em um zepelim. Ele obriga todos a fugirem rio adentro mas, ao ver Geni, ela percebe que talvez ainda haja uma chance de virar o jogo.
Com direção e roteiro de Anna Muylaert e produção de Iafa Britz, Geni e o Zepelim começará a ser filmado na Amazônia na próxima semana. Ainda não há previsão de lançamento.
Entenda a polêmica
Quando foi anunciado com Thainá Duarte no papel principal, o filme logo passou a receber críticas nas redes sociais já que, originalmente, a personagem Geni é uma travesti no teatro. Ativistas de direitos de pessoas trans e travestis reprovaram a decisão, que foi considerada um apagamento. A atriz e dramaturga Renata Carvalho, por exemplo, classificou a escalação como um tipo de “transfobia velada”.
Lançada em 1978, a canção Geni e o Zepelim faz parte do musical Ópera do Malandro, e do filme homônimo de 1985 dirigido por Ruy Guerra. A peça, ambientada na década de 40, conta a história de Max Overseas, um contrabandista que se casa com a filha de um alemão influente e rico. A trama tem como pano de fundo a legalidade do jogo e a prostituição, e se inspira em obras como Ópera dos Três Vinténs, de Bertolt Brecht, e Ópera dos Mendigos, de John Gay.
Rejeitada e criticada pela sociedade do lugar onde vive, Geni é uma prostituta que, conforme a canção, “é feita para apanhar e é boa de cuspir”. Quando um enorme zepelim chega à cidade pronto para destruí-la, seu comandante diz que pode “evitar o drama” em troca de uma noite com Geni.
Embora a canção não deixe claro especificamente, a personagem é uma travesti na peça. Geni já foi interpretada por Emiliano Queiroz na primeira montagem, da década de 1970, e por Kleber Montanheiro em uma montagem de 2014.
No último dia 19, a produção do filme tomou a decisão de repensar a escalação de Thainá Duarte e escalar uma protagonista trans.
“A produção do longa Geni e o Zepelim tomou a decisão de redesenhar o projeto. A personagem principal, inicialmente concebida como uma mulher cis, passa a ser uma mulher trans/travesti, e será interpretada por uma atriz trans. A decisão coletiva foi fruto da escuta atenta e do aprendizado de intensas trocas com pessoas de diferentes setores da sociedade”, diz a nota enviada ao Estadão e assinada em conjunto por Migdal Filmes, Paris Filmes e Globo Filmes, as empresas responsáveis pelo longa-metragem.