Em uma extensa entrevista concedida à revista Veja, o embaixador da China no Brasil, Zhu Qingqiao, criticou com veemência a política de tarifas do governo Donald Trump, destacando que tais medidas protecionistas prejudicam a economia americana e criam instabilidade nas cadeias globais de produção. “Eles já estão sofrendo as consequências do seu protecionismo comercial”, afirmou o diplomata, pontuando que os Estados Unidos “não ficarão grandes novamente” por meio da imposição de barreiras comerciais.
Zhu explicou que a atitude de Washington, na visão de Pequim, fere as regras internacionais e gera insegurança econômica. Para o embaixador, “as ações tomadas por Washington são exemplos evidentes do unilateralismo e do hegemonismo” e demonstram uma forma de pressão arbitrária sobre outras nações. “Para nós, guerras comerciais e tarifárias não têm vencedores”, enfatizou, ao falar sobre o impacto global das medidas impostas pelos Estados Unidos.
Ao ser questionado sobre como a China pretende reagir às constantes ameaças de sobretaxas, o embaixador garantiu que Pequim responderá de maneira proporcional: “A ideia é responder, mas com medidas razoáveis e contidas, relacionadas a produtos e setores específicos, sem a intenção de afetar mais nações”. Essa postura, segundo Zhu, visa manter o equilíbrio no comércio mundial e evitar escalar tensões que poderiam prejudicar outros países.
Além de abordar as tarifas, o embaixador chinês enfatizou a importância da inovação e da abertura econômica para o desenvolvimento do país. “Muros altos não podem anular o pensamento inovador”, declarou, ao comentar as restrições tecnológicas impostas pelos americanos e europeus contra empresas chinesas como a Huawei e o TikTok. Zhu também apontou que o governo dos EUA ainda não apresentou nenhuma prova concreta de que o TikTok, por exemplo, represente uma ameaça à segurança nacional.
No que diz respeito às relações com o Brasil, Zhu Qingqiao ressaltou a relevância da cooperação sino-brasileira, sobretudo diante das incertezas geopolíticas atuais. “Quanto mais instável o mundo, mais preciosa se torna a cooperação entre chineses e brasileiros”, afirmou. De acordo com o embaixador, a China tem se interessado por setores diversificados no país, indo além de áreas tradicionais como infraestrutura e mineração, e investindo em tecnologia de telecomunicações, agricultura inteligente e energia limpa.
A respeito de questões globais, o diplomata chinês reafirmou o compromisso de Pequim com metas climáticas e o desenvolvimento sustentável, mesmo com o país ainda dependendo fortemente do carvão como fonte de energia. Zhu explicou que a China estabeleceu objetivos claros até 2030 para reduzir emissões de carbono e planeja a neutralidade nas décadas seguintes. Dessa forma, as tensões comerciais e os debates em torno do protecionismo não ofuscam a convicção de que “elevar tarifas não tornará os EUA grandes de novo, mas apenas trará prejuízo ao país”.