Os dias têm começado cedo para Paula e Tyago, ou terminado tarde. Na verdade a noção de tempo e os horários convencionais de trabalho da maioria dos trabalhadores não têm se aplicado a eles ultimamente. É que falta apenas três dias para começar mais uma edição de um dos maiores desafios e que também é para eles uma das maiores oportunidades do ano: a participação no Salão do Artesanato Paraibano.
A cena não é isolada e se repete em dezenas de ateliês, oficinas e pequenas lojas espalhadas pela Paraíba. Mas, na história deles, há uma camada a mais de superação. Os dois são casados, parceiros de vida e de negócio e o retrato da resiliência que move boa parte dos empreendedores da economia criativa.
“Começamos sem saber direito para onde ir. Eu fazia personalizados para festas e Tyago estava em mais um emprego CLT quando por questões de saúde ele teve que deixar o emprego, foi aí que pensamos que se é pra recomeçar, que seja do nosso jeito, construindo algo nosso”, disse Paula.
Este começo segundo ela não foi fácil. Até que quase por acaso surgiu a primeira oportunidade de participar de uma feira criativa, indicada por um amigo. E foi ali que tudo começou a fazer sentido. De lá pra cá, os eventos se tornaram a principal vitrine e fonte de renda do casal e os produtos com identidade regional tomaram conta das prateleiras. Canecas, azulejos, mousepads, cadernos e bloquinhos, tudo personalizado na pequena loja que os dois mantêm no bairro de Mangabeira em João Pessoa e que além de estampas, carregam consigo a identidade e a alma do Nordeste.
Mas é no Salão do Artesanato Paraibano que os sonhos ganham outra proporção. O evento, realização do Governo do Estado e co-realização do Sebrae-PB, acontece anualmente em João Pessoa no mês de janeiro e durante o mês de São João em Campina Grande.
Para o casal o Salão não é apenas uma feira, para eles, assim como para muitos outros trabalhadores da economia criativa da Paraíba, é um divisor de águas no faturamento, na visibilidade e porque não dizer na consolidação da marca.
Participar não é simples, principalmente para a categoria na qual o negócio do casal se encaixa, a de Habilidades Manuais. É preciso passar por edital, curadoria e seleção e a cada nova edição, a ansiedade toma conta.
“O coração só acalma quando a gente vê nosso nome na lista dos selecionados. E aí começa a correria boa de produção, organização e planejamento”, conta Tyago.
Foi também através do Salão do Artesanato Paraibano que Tyago teve acesso a linhas de crédito oferecidas pelo Governo do Estado exclusivamente para os expositores do evento, através do Empreender PB. O recurso foi investido na qualificação do negócio, em cursos, equipamentos e melhorias que permitiram elevar o padrão dos produtos e dos processos.
O voo do empreendedorismo
A trajetória de Diego Oliveira no empreendedorismo começou de outra maneira, mas também é feita de recomeços e coragem. Ele começou a empreender em 2016 no ramo de produtos personalizados e criativos depois de sair de um emprego em uma companhia aérea e passar pelo ramo de produção de eventos, mas foi na economia criativa que encontrou sua vocação e fonte de renda.
“No começo é tudo muito difícil, você tem que primeiro entender sobre o negócio que quer criar, entender sobre mercado, concorrência, finanças, mas eu fui atrás, busquei ajuda, fiz cursos no Sebrae e entre erros e acertos tudo começou a fazer mais sentido”, relembra.
Assim como Paula e Tyago, ele também participa do Salão do Artesanato Paraibano e leva seus azulejos, canecas entre outros produtos com uma pegada moderna, divertida e colorida para cada nova edição do evento e tem conquistado mais e mais clientes.
“Quando sai o resultado é uma emoção pois sabemos que dali vem muito mais do que vendas, do que dinheiro, vem reconhecimento, conexão com outros empreendedores e clientes da Paraíba mas também de outros estados, até países. É uma grande oportunidade de expandir, fazer parcerias e ser visto”, pontuou.
Sebrae e Governo da Paraíba: parceria que fortalece o setor artesanal e impulsiona a economia criativa
O sucesso do Salão do Artesanato Paraibano não seria possível sem a união de forças. O evento é resultado de uma parceria entre o Governo do Estado da Paraíba e o Sebrae-PB, que juntos trabalham para fortalecer o setor artesanal e impulsionar a economia criativa no estado.
O Sebrae-PB tem um papel fundamental nesse processo, oferecendo suporte técnico, consultorias e capacitações que ajudam os artesãos e pequenos empreendedores. Além disso, contribui ativamente na organização e promoção como co-realizador, consolidando o evento como uma das maiores vitrines de negócios e de valorização da cultura paraibana.
Evento que gera renda e espalha cultura
Realizado há 20 anos com duas edições nas maiores cidades da Paraíba, mais do que uma feira, o Salão do Artesanato é um motor econômico e cultural. Só na edição de janeiro de 2025 realizada em João Pessoa o evento movimentou mais de R$ 4 milhões em vendas diretas, além de contratos fechados, encomendas e parcerias que seguem gerando receita muito depois que as luzes do pavilhão se apagam.
São cerca de 500 artistas, cooperativas e associações produtoras a cada edição, milhares de peças vendidas e incontáveis histórias de transformação. Para muitos, o faturamento do evento representa até 60% da receita anual, número significativo na vida de quem vive do empreendedorismo.
Mas o impacto vai além da renda. O Salão fortalece a identidade cultural, fomenta o turismo e coloca a Paraíba na rota dos grandes eventos de economia criativa do Brasil.
“Precisamos divulgar nossas tradições e valorizar o fazer artesanal, empregando materiais da região, e demonstrando o quanto é importante consumir o artesanato local. O Sebrae está sempre incorporando as parcerias já firmadas a este importante evento de negócios, como a Cagepa e o programa Empreender PB, entre outros novos agentes, como as organizações financeiras” frisou o gestor do projeto de Artesanato do Sebrae-PB, Jucieux Palmeira ao divulgar a 40ª edição do evento que ocorre de 11 a 29 de junho em Campina Grande.
Economia criativa: o futuro que já acontece
O que une as histórias de Paula, Tyago e Diego e a de tantos outros artesãos e pequenos empreendedores é a certeza de que a economia criativa é hoje uma das maiores forças do pequeno negócio.
Segundo levantamento feito pelo Observatório Nacional da Indústria, núcleo de inteligência e análise de dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI), a economia criativa representava 3,11% do Produto Interno Bruto (PIB) do país em 2023.
E na Paraíba não é diferente. Unindo tradição e inovação, a economia criativa paraibana segue avançando com força e propósito. Histórias como as de Paula, Tyago e Diego não apenas mostram o impacto de políticas públicas bem articuladas, como provam que empreender com identidade é também uma forma de transformar o futuro.
“Se hoje conseguimos viver do que amamos e ainda espalhar a cultura e potencial da Paraíba é porque alguém acreditou que a criatividade também é negócio”, concluiu Diego.
Thatiane Sonally
PB Agora