Os primeiros cem dias da presidência de Donald Trump se caracterizaram por uma grande mudança da direção na política comercial do país. A estratégia foi implementar tarifas de 25% sobre todas as importações americanas.
A partir desse ponto, o governo reduziu as tarifas para 10% para todos os produtos e todos os países por 90 dias, durante os quais seriam negociados os novos níveis, as chamadas “tarifas recíprocas”.
A exceção foi a China, que adotou uma atitude de retaliação, com uma estratégia olho por olho, implementando tarifas similares. Em reação, os Estados Unidos dobraram a aposta, atingindo tarifas de 145% sobre todas as importações chinesas.
Esse processo de negociação deve, em princípio, ocorrer caso a caso e está em andamento neste momento, sem qualquer transparência, o que gera grande incerteza quanto ao resultado final das negociações.
O ponto fraco dos Estados Unidos é exatamente a dificuldade de reconstruir as cadeias produtivas que foram transferidas ao longo dos últimos 40 anos para a China, o que dá um enorme poder militar ao país asiático. Foto: Mandel Ngan/AFP
O poder de barganha dos Estados Unidos decorre do fato de que é o país com o maior mercado do mundo, aproximadamente 26% do mercado mundial, o dobro do mercado chinês. Isso significa que todos os países querem negociar com os Estados Unidos.
Ao longo deste processo, muito provavelmente, o nível médio das tarifas implementadas pelos Estados Unidos e, ao mesmo tempo, as tarifas médias de outros países deverão se tornar mais próximos entre si.
Do outro lado da mesa está a China, que, além de ser o maior produtor de bens do mundo, é – o que é fundamental – o principal “adversário” na atual disputa pela hegemonia mundial não apenas econômica, mas também militar.
O ponto fraco dos Estados Unidos é exatamente a dificuldade de reconstruir as cadeias produtivas que foram transferidas ao longo dos últimos 40 anos para a China, o que dá um enorme poder militar ao país asiático.
O ponto mais importante é que a disputa em torno da hegemonia econômica e militar depende do controle da ponta da ciência, das inovações tecnológicas e da tecnologia militar.
A China não tem mercado suficiente capaz de consumir toda a capacidade de produção da economia chinesa. Sem os Estados Unidos, vai sobrar produção econômica no país.
Para os Estados Unidos, o principal problema é a disputa hegemônica com a China. Concretamente, a questão que está em jogo é utilizar as tarifas para estrangular a economia chinesa via redução do comércio internacional.
A pergunta é se essa estratégia será suficiente para recompor sua estrutura industrial naqueles setores indispensáveis para manter sua indústria militar competitiva – o que vai gerar redução de crescimento e aumento da inflação mundial no curto prazo.