Em tom de campanha, Lula diz que governadores não fizeram ‘nada’ de programas sociais
Presidente diz que encomendou estudo sobre políticas das gestões de Tarcísio de Freitas, Romeu Zema, Ronaldo Caiado e Ratinho Jr. Crédito: GovBR
BRASÍLIA – A dez meses das eleições, o tom de campanha marcou a última reunião ministerial do ano, nesta quarta-feira, 17, na Granja do Torto. Logo na abertura do encontro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva definiu 2026 como “a hora da verdade” e estimulou comparações críticas entre os números de seu governo e o do antecessor, Jair Bolsonaro (PL), hoje preso por tentativa de golpe.
A Secretaria de Comunicação Social (Secom) vai lançar, nos próximos dias, uma campanha publicitária para destacar as entregas do governo, que servirão como mote da corrida pela reeleição de Lula. Nesse pacote constam a Isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil e programas como Gás do Povo, Agora tem Especialistas e Minha Casa, Minha Vida. A campanha foi feita com o uso de Inteligência Artificial.
“Tudo é instrumento de disputa política. Quero saber o que (os adversários) vão falar, o que vão propor, qual a novidade que eles têm para disputar conosco”, perguntou Lula durante o encontro.

Lula com ministros: “Aquele que tiver que se afastar, por favor, ganhe o cargo que disputar” Foto: Reprodução via Youtube
Pesquisa Genial/Quaest divulgada na terça-feira, 16, mostrou que Lula venceria todos os seus desafiantes, mas deu fôlego ao bolsonarismo ao indicar que o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) largaria na frente de candidatos da direita se as eleições fossem hoje. Até mesmo o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), um dos que disputam o espólio de Bolsonaro, ficaria atrás de Flávio.
“O dado concreto é que o ano eleitoral vai ser o ano da verdade. Ou seja, nós temos que criar a ideia da hora da verdade para mostrar quem é quem nesse País, quem faz o que, o que aconteceu antes de nós e o que aconteceu quando chegamos ao governo”, argumentou Lula. “As pessoas terão oportunidade de escolher que tipo de País vão querer.”
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que o governo herdou uma “bomba fiscal”, em 2023, e entregará o País em outro patamar. O presidente admitiu, por sua vez, que é preciso recompor o orçamento do Ministério da Defesa. “Eu não quero general gordo aposentado dizendo que vai servir na guerra”, discursou.
Candidato ao quarto mandato, Lula afirmou, ainda, que os ministros terão de decidir de que lado estarão em 2026. Não citou o nome de nenhum adversário, mas todos entenderam o recado.
Dos 38 ministros, aproximadamente 19 deixarão os cargos para concorrer às eleições, entre eles o próprio Haddad, Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais), Rui Costa (Casa Civil) e Simone Tebet (Planejamento).
Há na Esplanada e nas estatais muitos integrantes de partidos que compõem o Centrão. Na teoria, o grupo rompeu com o governo, embora uma ala continue jurando fidelidade a Lula.
Um clima de constrangimento tomou conta da reunião ministerial quando, após o encerramento, o presidente anunciou a demissão do titular de Turismo, Celso Sabino (sem partido). Trata-se do 14.º ministro a deixar o primeiro escalão desde 2023.
Mesmo dispensado, Sabino participou do almoço de confraternização no Torto, que teve no cardápio pratos variados como churrasco, feijão tropeiro, frango, linguiça e paella, além de sorvete e banana flambada de sobremesa.
No início do mês, o titular do Turismo foi expulso do União Brasil por se recusar a deixar o governo. Agora, ficou sem partido e sem cargo porque a parte da bancada na Câmara que está com Lula pediu sua cadeira na Esplanada.
Durante o encontro, o presidente também admitiu preocupação com a violência no País, sobretudo com o feminicídio, e prometeu criar o Ministério da Segurança Pública. O tema aparece em todas as pesquisas como a principal apreensão dos eleitores.
Lula vai vetar projeto que reduz pena de Bolsonaro
Articuladora política do Palácio do Planalto com o Congresso, Gleisi disse que o governo é contra o projeto de lei que reduz as penas de Bolsonaro e outros condenados pelos atos golpistas do 8 de Janeiro.
Na sua avaliação, o texto, do jeito que está, é uma “afronta” ao Supremo Tribunal Federal (STF) e um incentivo a novos golpes. Como mostrou o Estadão, Lula vai vetar o texto aprovado nesta quarta-feira pelo Senado.
Assuntos como Conferência do Clima das Nações Unidas (COP-30), resistência do Senado à indicação do advogado-geral da União, Jorge Messias, para uma vaga no STF, acordo entre Mercosul e União Europeia, crise na Venezuela e tarifaço dos Estados Unidos aos produtos brasileiros também frequentaram a reunião.
“Eu falei para o Trump: ‘Oh, Trump, fica mais barato conversar e menos sofrível conversar do que (fazer) guerra. Se a gente acreditar no poder do argumento, da palavra, a gente evita muita confusão na vida dos países”, observou Lula.
Antes de se despedir, o presidente também disse que os ministros-candidatos precisam ganhar as eleições de 2026 para ajudá-lo, demonstrando confiança de que conquistará um próximo mandato.
“Aquele que tiver de se afastar, por favor, ganhe o cargo que disputar”, destacou ele. E, mais uma vez, pediu que os auxiliares não confundam poluição visual com comunicação ao divulgar o que o governo vem fazendo.
“Não adianta a gente querer colocar 80 coisas num pedaço de papel que as pessoas olham e não entendem”, insistiu. Não adiantou: pouco depois, Rui Costa apresentou mais de 70 slides com textos e gráficos sobre realizações do governo, numa apresentação que consumiu uma hora.


