O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos defendeu uma “reforma policial abrangente” no Brasil após a megaoperação contra o Comando Vermelho no Rio de Janeiro que deixou mais de 100 mortos – a mais letal na história do estado.
Nesta quarta-feira (29), o alto comissário Volker Türk afirmou “compreender perfeitamente” os desafios de ter que lidar com grupos criminosos violentos e bem organizados.
“No entanto, a longa lista de operações que resultaram em muitas mortes – que afetam desproporcionalmente pessoas de ascendência africana – levanta questões sobre a forma como essas operações são conduzidas”, destacou a autoridade da ONU.
Türk pontuou que o alto índice de mortes associado ao policiamento no Brasil se tornou “algo normal” durante décadas, especialmente no Rio de Janeiro.
“O Brasil precisa romper o ciclo de extrema brutalidade e garantir que as operações policiais estejam em conformidade com os padrões internacionais relativos ao uso da força”, afirmou o alto comissário.
Ele pediu “investigações rápidas, independentes e eficazes” sobre a ação policial nos Complexos do Alemão e da Penha, além do estabelecimento de mecanismos independentes para garantir apoio às famílias e comunidades afetadas.
O alto comissário para os Direitos Humanos defendeu uma “reforma policial abrangente” no Brasil e pediu que as autoridades brasileiras adotem “uma estratégia nacional de policiamento baseada nos direitos humanos”.
O Alto Comissariado pontuou em comunicado que “qualquer uso de força potencialmente letal deve estar em conformidade com os princípios da legalidade, necessidade, proporcionalidade e não discriminação. A força letal só pode ser usada quando estritamente necessária para proteger a vida ou evitar lesões graves decorrentes de uma ameaça iminente”.
“Reformas urgentes são necessárias para evitar que se repitam. Violações não podem ficar impunes. Processos de responsabilização adequados devem levar à verdade e à justiça para evitar mais impunidade e violência”, concluiu Türk.
Chefe da ONU diz estar “gravemente preocupado”
O secretário-geral da ONU, António Guterres, está “gravemente preocupado” com o número de vítimas na megaoperação policial.
Durante uma coletiva de imprensa diária da Organização das Nações Unidas, o porta-voz Stéphane Dujarric afirmou que Guterres reforça que o “uso da força em operações policiais precisa aderir à lei internacional de direitos humanos”.
Dujarric ainda disse que o secretário-geral pede que autoridades investiguem o caso “imediatamente”.
Megaoperação deixou 119 mortos, diz governo do RJ
A megaoperação contra o Comando Vermelho deixou 119 mortos, segundo o governo do Rio de Janeiro. A informação foi confirmada pelas forças de segurança do estado em uma coletiva no início da tarde desta quarta-feira (29).
Os números finais, apresentados na coletiva, são os seguintes:
- 119 mortos – 58 no dia da operação e outros 61 corpos encontrados na mata
- 113 presos, sendo 33 de outros estados
- 10 menores apreendidos
- 118 armas apreendidas, sendo 91 fuzis, 26 pistolas e 1 revólver
- 14 artefatos explosivos
- Toneladas de drogas ainda sendo contabilizadas
Em um vídeo publicado em suas redes sociais na manhã desta quarta-feira (29), o ativista e líder comunitário Raull Santiago relatou o drama vivido por moradores da região do Complexo da Penha, na zona norte do Rio de Janeiro.
Moradores do local estenderam uma fila com mais de 50 corpos na Praça da Penha. Segundo o ativista, que está no local, os cadáveres foram retirados de uma região de mata durante a madrugada e cobertos colocados em uma lona um ao lado do outro.
“Tem mais corpos chegando. Os carros acabaram de subir porque mais pessoas foram encontradas em algumas partes da favela. Nada me marca tanto quanto o choro da família, infelizmente eu não queria que isso fosse uma realidade dentro da minha existência”, disse Santiago.
A Defensoria Pública do Rio disse que contabilizou 130 mortos após a megaoperação. Segundo o órgão, já são contabilizadas as mortes de 128 civis e quatro policiais, num total de 132 vítimas.
Metrópoles


