
Máquinas não querem nada — até que digamos a elas o que devem querer. Parece simples, mas é exatamente nesse ponto que ficção científica, literatura e mundo corporativo começam a se cruzar de forma inquietante.
Tenho reparado em como a ficção científica tem servido para explicar este momento de mundo. Isaac Asimov imaginou robôs com regras perfeitas e conclusões perigosas. Philip K. Dick descreveu sistemas tão lógicos que pareciam delirar. Na maioria das histórias, a inteligência artificial não se rebela: ela obedece demais. E é justamente aí que mora o risco. Uma IA obediente pode ser mais perigosa do que uma IA rebelde.
Em 2026, esse debate deixa de ser filosófico e passa a ser estratégico. Empresas já operam cercadas por algoritmos que definem preços, avaliam crédito, medem desempenho, distribuem mídia, priorizam talentos e calculam riscos. Sistemas programados para maximizar eficiência, reduzir custos e escalar resultados. A pergunta já não é se eles decidem — mas com base em quais intenções?
O mundo se impressiona ao saber que Mark Zuckerberg investe milhões na construção de um bunker autossuficiente no Havaí. Mas poucas organizações percebem que vêm erguendo seus próprios bunkers algorítmicos: modelos opacos, protegidos por métricas aparentemente neutras — “otimize”, “reduza”, “maximize” — que moldam silenciosamente estratégias inteiras.
Na China, robôs humanoides começam a ocupar fábricas e centros de pesquisa como aposta econômica e geopolítica. Quando a inteligência deixa de habitar apenas telas e passa a ocupar o mundo físico, decisões algorítmicas ganham peso real — social, financeiro e reputacional.
Planejamento Estratégico, nesse contexto, deixa de ser apenas definir mercados e metas. Passa a incluir a governança das decisões algorítmicas. Definir não só onde crescer, mas o que não automatizar, o que não otimizar e quais valores devem orientar as máquinas que operam em nome da empresa.
A intenção continua sendo humana. A responsabilidade, também. Em 2026, estratégia será, cada vez mais, decidir como — e por quem — as decisões são tomadas.


