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A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) já considera como improvável o retorno ao cenário comercial global pré-guerra tarifária entre Estados Unidos e China, declarou a diretora de relações internacionais da CNA, Sueme Mori, no Fórum Cenário Geopolítico e a Agricultura Tropical, realizado pela CNA em parceria com Estadão e Broadcast. “Não esperamos voltar ao cenário anterior”, reforçou.
Segundo ela, esse é o cenário mais otimista, com uma tarifa-base de 10% para todos os produtos. “Sabemos que o presidente (dos Estados Unidos, Donald) Trump disse que os aumentos seriam uma forma de compensar a redução de impostos internos”, explicou. Mesmo neste caso, Mori reforça que não se trata de um retorno à normalidade, mas de um alívio parcial.

Sueme Mori, diretora de Relações Internacionais da CNA, diz que diálogo sobre Mercosul-UE melhorou Foto: Marcelo Chello
Segundo ela, este é um dos três cenários distintos com o qual a CNA trabalha para os impactos da disputa entre as duas maiores economias do mundo. Outro cenário considerado é o de alíquotas acima de 100% entre os dois países. “A partir de certo ponto, mesmo que aumente para 1.000%, não faz mais diferença, porque o comércio fica inviabilizado”, afirmou.
Já o terceiro cenário, considerado o mais preocupante, envolve um eventual acordo de compras entre China e Estados Unidos, nos moldes do que foi negociado durante o primeiro governo Trump. “Esse seria o cenário mais preocupante, porque o Brasil perderia espaço”, alertou. “Da outra vez, o acordo não foi integralmente cumprido, e o Brasil conseguiu ocupar uma parte desse mercado.”
Apesar dos riscos, Mori acredita que o Brasil tem condições de se adaptar aos diferentes desdobramentos do cenário global. “O Brasil tem uma capacidade única de atender a demandas específicas”, disse. Ela citou como exemplo o protagonismo brasileiro nas exportações de proteína animal para o mercado halal e os avanços recentes em produtos como milho, algodão, sorgo e DDG (Grãos Secos de Destilaria na sigla em inglês).
“Exportamos volumes recordes de milho e nos tornamos grandes exportadores de algodão. Abrimos o mercado de sorgo para a China. Então, o Brasil tem essa capacidade de se adaptar e ocupar espaço.”
Para ampliar essa resiliência e reduzir a dependência de mercados concentrados, a diretora da CNA apontou dois caminhos principais: abertura de novos mercados específicos e acordos comerciais estruturantes. “Como fizemos com o milho para a China ou com a carne para o México”, explicou. “E também os grandes acordos − como o que está em negociação com a União Europeia, e a ampliação do acordo com a Índia. Esses acordos estruturam o acesso ao mercado e reduzem barreiras tarifárias”, concluiu.
Mercosul-União Europeia
A diretora acredita que há uma mudança positiva no ambiente político europeu em relação ao acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia.
Segundo Mori, “o diálogo melhorou” nos últimos meses e o tema vem ganhando relevância estratégica em meio às transformações geopolíticas em curso. “Estivemos na Europa no começo do ano e percebemos que o diálogo melhorou”, afirmou Sueme. Ela também participou recentemente de um evento em Roma para debater o tratado, onde notou divergências internas entre os próprios países europeus, segundo seu relato.
Apesar das resistências, a diretora destacou que o bloco europeu tem se movido em direção à competitividade e à flexibilização de normas, o que favorece o avanço das negociações. “A Europa, diante de toda essa reconfiguração geopolítica, percebeu que precisa ser mais competitiva”, disse. “O acordo com o Mercosul faz muito sentido nesse contexto. Ele representa uma diversificação, algo que é um mantra nosso.”
Na avaliação da diretora CNA, o acordo com a União Europeia permitirá a abertura real de mercado que estão, hoje, praticamente inacessíveis ao País. “O benefício real de um acordo comercial está na abertura de mercado, na redução de tarifas. A tarifa, no caso da União Europeia, é um impeditivo real − por isso, a redução amplia nosso acesso.”
Apesar do otimismo, a diretora reconhece os obstáculos. “França e Polônia são os mais vocais contra o acordo”, afirmou. A Itália ainda não se posicionou oficialmente “Se o governo italiano também se posicionar contra, e se juntarem a França, Polônia, Áustria − que já é contra − e outros países menores, o acordo pode não ser ratificado. A Itália, nesse cenário, é o fiel da balança.”
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