Miguel Oliveira, conhecido como o “profeta mirim”, é um adolescente de 15 anos que tem chamado atenção em todo o Brasil. Natural de Carapicuíba (SP), ele conta que iniciou seu ministério aos 3 anos de idade, depois de um milagre que teria curado sua surdez e mudez. Hoje, ele acumula milhões de visualizações em redes sociais e milhares de seguidores, encantados com suas pregações, orações e profecias.
Mas por trás do fenômeno, surgem perguntas incômodas. Miguel rasga laudos médicos em cultos, declara ter curado câncer, anuncia milagres e pede ofertas generosas — inclusive chegando a mencionar valores de até R$ 10 mil para apoiar seu ministério. Esse cenário levanta debates sérios: estamos diante de um garoto cheio do Espírito Santo ou de um espetáculo religioso embalado por redes sociais e marketing?
As autoridades já começaram a agir. O Conselho Tutelar e o Ministério Público de São Paulo intervieram para limitar sua exposição, alertando para os riscos de exploração infantil. Além disso, o Código Penal brasileiro tipifica como crime o charlatanismo e o curandeirismo — anunciar curas milagrosas ou exercer práticas de cura sem respaldo médico. Embora Miguel, por ser menor, não responda criminalmente, os adultos ao seu redor carregam responsabilidade legal e moral sobre seus atos.
No meio cristão, as opiniões também se dividem. Muitos creem que Deus pode, sim, levantar crianças para falar e agir em Seu nome, lembrando exemplos bíblicos. Outros alertam: dons espirituais não dispensam responsabilidade, maturidade e supervisão pastoral. Emoção e fé, por mais intensas, não podem substituir critérios bíblicos sólidos e a necessária prudência diante de fenômenos tão delicados.
A verdade nua e crua é que Miguel Oliveira encarna um fenômeno complexo. Ele é, para alguns, um sinal de esperança entre os jovens; para outros, um alerta sobre os perigos da fama precoce, da exploração midiática e das fronteiras entre fé e responsabilidade. O desafio não é apenas julgá-lo, mas refletir: estamos diante de um mover genuíno de Deus — ou de um fenômeno humano amplificado pelos algoritmos?
Cabe à igreja, às famílias e à sociedade discernir — e proteger — antes que o preço desse destaque seja alto demais.
Elcio Nunes
Cidadão Brasileiro
@elciojnunes