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Foi no meio de uma crise mundial que o casal Dubrule, vindo da França, descobriu uma oportunidade única de negócios no Brasil. No fim da década de 1970, quando o mundo se via às voltas com o choque do petróleo, fundaram a Tok&Stok para atender, de forma revolucionária na época, à demanda da classe média ascendente brasileira por móveis.
De lá para cá, a rede se consolidou como símbolo do varejo de design no País, desbravando outras tantas crises locais. Nenhuma, porém, que se iguale ao desafio da batalha que travam agora em torno da marca. Uma fusão com a varejista digital Mobly, à revelia dos fundadores da Tok&Stok, em 2024, transformou-se numa das maiores disputas societárias do mercado. O embate ferrenho deixa cicatrizes e torna ainda mais incerto o futuro do grupo.
Com mais de 70 anos, Ghislaine Dubrule lidera a reação dos fundadores. Em 2023, ela retomou suas funções no grupo depois de seis anos afastada do negócio. Nesse período, investidores do fundo Carlyle impulsionaram os planos de crescimento acelerado, complementado por lojas expressas, e voltados para uma abertura de capital na Bolsa. O Carlyle entrou na Tok&Stok em 2012, ao comprar 60% da varejista, por cerca de R$ 700 milhões. Como comparação, hoje a Mobly vale R$ 117 milhões na Bolsa.
Com um faturamento de R$ 1 bilhão em 2011, a empresa operava 35 lojas e não tinha endividamento. Com o fechamento do mercado, o plano inicial para estrear na B3 não vingou e a companhia acumulou dívidas. O endividamento chegou a R$ 600 milhões e foi renegociado depois de um novo aporte do Carlyle.
Um arranjo costurado pelos investidores da gestora SPX, que assumiu os negócios do Carlyle no Brasil, culminou no processo de fusão, desenhado para formar uma gigante de móveis no País. De um lado, entraria a experiência de anos da Tok&Stok no varejo físico e, de outro, o conhecimento da nativa digital de móveis Mobly, que chegara à Bolsa em 2021, na onda favorável do avanço colhido na época da pandemia, período em que os negócios online sobressaíram. Os ganhos da combinação das duas, as chamadas sinergias, foram calculados em R$ 150 milhões.

Companhia que faturava R$ 1 bilhão em 2011, operava 35 lojas e não tinha endividamento registrou prejuízo de R$ 164,1 milhões em 2024 Foto: Taba Benedicto/Estadão
Para os fundadores da Mobly, o desenho estava bem claro: seria aproveitar o que havia de melhor de ambos os lados, juntar forças para formar a maior varejista de móveis da América Latina, em linha com uma provocação defendida por bancos de investimento. A ambição era escalar as operações e ampliar a competitividade frente a competidores como Magazine Luiza e Leroy Merlin.
Na Tok&Stok, a visão era diferente. A volta de Gislaine à gestão tinha como pano de fundo um retorno ao básico: focar no ambiente da loja física, com coleções assinadas e uma valorização do chamado lifestyle. Para o casal fundador, a combinação com a Mobly representaria o “abraço dos afogados”.
A visão era de que a Tok&Stok tinha uma questão pontual de endividamento, enquanto a Mobly era vista com baixo potencial de gerar resultados, num modelo de negócios mais voltado para volume.
Essa divergência primordial é o ponto de partida da crise societária que se formou em torno da Toky, o grupo resultante da fusão. A disputa vem escalando nos últimos dias e está chegando aos tribunais do País — já há procedimentos na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e no Judiciário.
Volta ao controle
O campo de batalha se dá em torno de um pedido feito pela Tok&Stok para que a Toky faça uma Oferta Pública de Ações (OPA). O objetivo do casal é retomar o controle da companhia. A Mobly afirmou inicialmente que o preço oferecido, de R$ 0,68 por ação, é muito abaixo do que vale o negócio.
Nessa disputa, surge um terceiro nome, o grupo XXXLutz, controlador da home24, varejista de móveis europeia, que é acionista do grupo. A Mobly acusa o casal Dubrule de agir em conluio com a home24 e de oferecer a eles uma condição mais vantajosa em paralelo à oferta pública.
Com base nisso, entraram com um pedido para suspender a OPA. Como resposta, a Home24 e os Dubrule acionaram a Justiça para tentar manter a oferta de ações e pedidos para responsabilizar a Mobly em relação às acusações feitas sobre o processo.
As acusações vão a fundo nos detalhes, com a inclusão de e-mails sobre o processo. A ofensiva alcançou até gastos com plano de saúde, com uma acusação feita pela Mobly de cobertura com custos indevidos de uma cifra milionária paga à família pela companhia.
Enquanto a disputa segue no comando, as operações ainda vivem dificuldades. Os dados mais recentes, do quarto trimestre de 2024, mostraram uma melhora anual na receita líquida (160%), mas um prejuízo de R$ 105,4 milhões, alta de 397,7% ante o mesmo trimestre de 2023. No acumulado do ano registrou prejuízo de R$ 164,1 milhões, aumento de 92,7% frente ao prejuízo de 2023.
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