Eu admiro o professor Chico Viana e sua energia intangível, ele impregnado dela, da palavra, joga com vocábulos na certeza que pode ser doloroso, uma fonte, minha fonte e peço um copo d’água. Chico é imenso e faz alertas que ninguém dúvida e ficam todos agarrados ao passado. Mas por que digo isso? Sei lá. Ele é o tema de hoje.
Uma frase de CV, “o pior da velhice não é sofrer a amnésia pessoal. É ser objeto da amnésia dos outros” – isso dele dizer amnésia dos outros, não é novidade, é o prato do dia, da agonia, do aperreio sem soluções de cenas perturbáveis. A novidade é a guerra.
Nesse registro cruel, o escritor Viana mostra a amnésia fotográfica, exatamente como ela é, o retrato na parede, quando sua frase é a imagem, dentro do reflexo do espelho quebrado, apresentando sacadas, socadas, escadas, um outdoor e muitas ilusões.
De tanto estarmos juntos nesse inferno dos outros e somos nós por exemplo de outro lugar, lugar-comum, lugar nenhum, uns assolando pelo retrovisor e quase todos socando na sola do sapato chique ou pé no chão, o velho pé de chinelo.
Chico bota nossa cara na avenida antes do carnaval ou da morte ser anunciada, porque é assim que começa. Sequer alvissaras, as vísceras e conexões expostas, seres ou não seres; envergonhado fico eu, menino, jamais bastardo, dos objetos da amnésia dos outros, ainda expostas nas cabeças cortadas de Lampião e Maria Bonita. Gente é como chita, né Chico?
Amnésia de muitos, cabeças de papel, que podem ser filhos, irmãos, parentes, patentes infiltrados num grau de nunca ter chegado perto da família. Te dana.
Após a leitura da post de Viana, boa tese, senti firmeza e vi o córrego dos amnésicos a céu aberto, impurezas de quem só quer venha nós, nunca vosso reino e não estamos em nenhum Armorial, porque Ariano voltou ao pó faz tempo.
Esse toque do registro de CV é cena corriqueira, pois, não existe mais ´o daqui não saio, daqui ninguém me tira´. Se existir, é mentira. Lacrou, meu! Vamos pensar que sua assertiva, lembra o cinema ´otimista´ de Tarantino com a navalha na carne de Plínio Marcos, 1968. Não sei, talvez o meu espanto, meu exagero, nossa cegueira, na agonia do goleiro na hora do gol, ou seja, a miséria dos outros sobre a amnesia global. É a mesma coisa?
Por favor Seu Amnésico, tire as mãos de mim, daqueles que sofrem de amnésia, com dificuldades de recordar novas memórias. Tire as mãos de mim e chama Sinhá para rezar nos neurônios, irônicos, hecatombes.
Nem é caso de polícia nem sair por aí dizendo que já viu de tudo, que não viu mesmo, porque o filme é outro e não passa nas plataformas infernais de streaming, algo como a invisibilidade, insensibilidade patológica, de quem vive esse período de rolar cabeças, do crescimento dessa coisa ruim, com novos moradores chegando à legião dos amnésicos, atraídos pelos loteamentos nas proximidades cerebrais e argumentos sem fundamento.
Chico Viana é o Tao da linguagem, transformador de cidadanias com as palavras, como fez o Paulo, o Freire, ensinando aos pedreiros com pá, enxada e o tijolo. Eu nunca viajei na maionese. Nem Chico.
Kapétadas
1 – Juscelino Kubitschek fundou Brasília, Juscelino Filho afundou.
2 – Sai Ainda Estou Aqui; entra Adolescência.
* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB