Um dia após a condenação de Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de estado, a Polícia Federal prendeu o influenciador conhecido como “Careca do INSS”, acusado de ser peça-chave em um esquema bilionário de fraudes contra a Previdência Social. A coincidência temporal entre os dois eventos levanta uma questão importante: será que finalmente estamos vendo sinais de que a justiça está sendo aplicada sem distinção de lado político?
A fraude no INSS, embora tenha ganhado força nos últimos anos, começou a se articular ainda em 2019, no governo Bolsonaro. No entanto, o esquema se perpetuou durante o governo Lula, e isso foi utilizado por setores bolsonaristas como uma das provas de que a gestão petista seria, mais uma vez, envolvida em corrupção. Agora, com a prisão do “Careca” — que fazia vídeos debochados nas redes sociais ostentando ganhos com aposentadorias fraudulentas —, um novo capítulo se desenha.
Se o argumento era válido para tachar o governo Lula de “ladrão”, então também deve ser válido para reconhecer que o esquema teve raízes ou ao menos conivência durante o governo Bolsonaro. Ou seja: se há culpa de um lado, há responsabilidade do outro. O “pau que bate em Chico também bate em Francisco”.
O fato de Bolsonaro ter sido condenado e, no dia seguinte, um símbolo do escândalo do INSS ter sido preso mostra que não há mais espaço para seletividade judicial. A justiça deve ser universal, aplicada a todos, sem distinção ideológica. Dois pesos e duas medidas apenas alimentam a polarização, corroem a credibilidade das instituições e impedem que o Brasil avance de forma madura no combate à corrupção.
O recado que parece estar sendo dado — e que precisa ser reforçado — é claro: quem comete crime, independentemente do partido, deve responder por ele. A justiça não é uma ferramenta de revanche política, mas um pilar fundamental da democracia. Quando aplicada com isenção, ela expõe os malfeitos de todos os lados — e só assim o país pode começar a virar a página da impunidade.