Uma luz amarela se acendeu na frente da Granja Santana com a decisão do presidente da Assembleia Legislativa da Paraíba, Adriano Galdino, de ser candidato a governador, dentro ou fora do Republicanos, em um suposto “jogo combinado” com o prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena.
Se a palavra se cumprir, o tabuleiro do xadrez político paraibano, que estremece a cada dia, vai começar a ser montado de verdade.
A possível migração de Efraim Filho do União Brasil para o PL, além da consolidada e renitente pré-candidatura de Cícero Lucena já sinalizam a pulverização da disputa no primeiro turno, tal qual ocorreu em 2022, quando Pedro Cunha Lima, Veneziano Vital do Rêgo e Nilvan Ferreira foram candidatos pelas oposições, forçando um inevitável segundo turno.
O quadro tende a se repetir em 2026, mas com uma importante diferença: Lucas não deve ser surpreendido às vésperas das convenções, como foi João em 2022.
Diferentemente de Polyana em 2022, o “bunker” governista não sofrerá nenhuma crise de legitimidade nas suas três principais postulações (Lucas Ribeiro, Nabor Wanderley e João Azevedo).
Se for verdadeiro o “jogo combinado” revelado por Adriano com Cícero, a balança está totalmente equilibrada. Imaginemos a mega estrutura do Poder Legislativo e suas ramificações com o suporte das poderosas máquinas administrativas de João Pessoa e Campina Grande? É difícil encontrar elementos que nos façam acreditar numa eleição fácil para a Granja Santana.
Para retomar o favoritismo governista, a luz no fim do túnel é Cícero indicar o vice de Lucas. Sem mais.
A propósito, em conversas com as fontes envolvidas, todas são unânimes em dizer que é “impossível” uma aliança entre as famílias Ribeiro e Galdino para as eleições do próximo ano. A família Lucena é a esperança.
O marketing de Adriano, subliminarmente, há algum tempo, assim como Cícero, “o caboclinho do Sertão”, vende a sua imagem como outro frontal contraponto a imagem de Lucas. O homem “simples” oriundo das camadas desfavorecidas que subiu ladeiras para desafiar o jovem “charmoso” e herdeiro de uma linhagem nobre da política paraibana (conceitos de Roger Gérard Schwartzenberg, descritos em “O Estado Espetáculo”).
“Tudo ou nada”
A relação entre o deputado federal Aguinaldo Ribeiro e o presidente da Assembleia Legislativa da Paraíba nunca mais foi a mesma após o rompimento entre o senador Efraim Filho (UB) e o governador João Azevedo (PSB).
Para quem não se recorda, em 2022, Efraim contava com o apoio não só de Adriano Galdino, mas de Hugo Motta e de todo o Republicanos em razão de ter cedido estimados 80 mil votos de suas “bases” que salvaram a pele dos deputados federais Murilo Galdino e Wilson Santiago.
Num determinado momento da pré-campanha, Aguinaldo, que disputava com Efraim a vaga de senador na chapa de João Azevedo, chegou a dizer que presidente de Assembleia não precisava de “base cedida por ninguém” para garantir uma cadeira na Câmara Federal, lembrando o histórico de todos que fizeram esse percurso (Carlos Dunga, Gilvan Freire, Inaldo Leitão, Rômulo Gouveia, Gervásio Filho, entre outros).
Mas Adriano é diferente. Subverteu a lógica. Ao invés de ser federal, conseguiu seguir comandando o Poder Legislativo e garantiu, assim como os antecessores supracitados, a cadeira em Brasília.
Ronaldista histórico desde os anos 80, Adriano Galdino construiu um currículo político vasto, se tornando personagem singular na política paraibana. Ao ter que optar entre o filho do poeta, seu amigo de longa data, e o então governador Ricardo Coutinho, foi o primeiro a tomar posição pelo lado fadado a derrota, abrindo mão de estar com o favorito. Venceu.
A sinceridade, uma de suans maiores virtudes, também costuma ser confundida com irresponsabilidade. Certa feita, em Sertânia-Pernambuco, na presença deste jovem jornalista, não pediu reservas ao dizer o que pensava sobre Gervásio Filho, seu sucessor na presidência da Assembleia Legislativa. Não contarei. Genival Matias partiu deste plano, mas Hervázio Bezerra e Raoni Mendes estão vivos para confirmar o que também ouviram. Adriano é coragem em nível “hard”.
Em política, dizem os mais experientes, é muito arriscado agir sem pensar, cuidadosamente, nas consequências de cada gesto. Adriano, muitas vezes, age por impulso e explode de surpresa. Se isso lhe populariza, seguindo o estilo Ronaldo Cunha Lima, que pagou preços altos, também pode cobrar de Adriano altos juros, como as consequências do rompimento com o “trio parada dura” que ele ensaia deflagrar.
Esperar pra ver.
Ytalo Kubitschek
PB Agora