A teoria da relatividade do físico alemão Albert Einstein elucida o tempo como não sendo uma entidade fixa e absoluta, mas sim uma dimensão relativa, intrinsecamente ligada ao espaço, formando o espaço-tempo. O relógio traz o tempo para um plano mais palpável, porém, mesmo que seja possível olhar os ponteiros rodando, a perspectiva temporal é pessoal.
Conceitos físicos à parte, o ano de 2025 já começa a se encaminhar para a metade, e é quando surgem os inevitáveis comentários sobre como os meses estão passando depressa em rodas de conversas.
Um estudo da Universidade de Yale, em New Haven, Estados Unidos explora o conceito da dilatação temporal subjetiva, com o artigo “Dilatação subjetiva do tempo: espacialmente local, baseada em objetos ou uma experiência visual global?”. O texto traz que a percepção de que o tempo pode se distorcer em situações intensas, como em acidentes ou momentos de tensão, fazendo com que os segundos pareçam passar devagar.
Os cientistas tentaram reproduzir esse fenômeno da dilatação temporal subjetiva em laboratório, usando estímulos visuais inesperados, chamados de “objetos excêntricos”—como um disco que se expande repentinamente em meio a uma sequência de imagens estáticas.
Quando um objeto inesperado aparece em nosso campo visual — como um disco que se expande repentinamente ou um estímulo ameaçador —, nosso cérebro entra em um estado de alerta elevado. Essa excitação acelera o processamento interno de informações, fazendo com que todo o campo visual pareça durar mais, não apenas o objeto que chamou atenção.
Experimentos mostraram que esse efeito não se limita à região próxima ao estímulo inesperado. Mesmo objetos distantes são percebidos como se estivessem em “câmera lenta”. Esse mecanismo explica por que, em situações reais de perigo, temos a impressão de que o tempo desacelera por completo, e não apenas para o elemento ameaçador.
O cérebro não está somente focando no perigo, mas ajustando todo o sistema perceptivo para reagir com mais eficiência. Curiosamente, apenas estímulos considerados “urgentes” provocam esse efeito, enquanto movimentos neutros ou de afastamento não causam a mesma distorção. Isso reforça a ideia de que a dilatação do tempo está ligada a respostas adaptativas, preparando-nos para lidar melhor com ameaças inesperadas.
Experiências
A percepção do tempo é profundamente subjetiva e varia conforme nossas experiências emocionais, rotinas e contextos culturais. Segundo Bruno Nogueira da Silva Costa, psicólogo e vice-presidente do Centro de Atendimento e Estudos Psicológicos da Universidade de Brasília (UnB), o tempo não é um conceito universal, mas uma construção influenciada por fatores cognitivos, biológicos e sociais.
Enquanto crianças desenvolvem a noção de tempo gradualmente, adolescentes e adultos lidam com abstrações temporais, e idosos enfrentam desafios como a aceleração subjetiva do tempo devido à redução de novidades e ao declínio neuroquímico.
A dilatação temporal subjetiva está diretamente ligada às emoções e à vivência de situações novas. Experiências intensas, como um acidente ou um primeiro encontro, ativam regiões cerebrais como a amígdala e o córtex parietal, aumentando a codificação de memórias e criando a impressão de que o tempo passou mais devagar. Por outro lado, rotinas repetitivas e a falta de estímulos, comuns no envelhecimento, comprimem a percepção temporal, fazendo os meses parecerem “voar”.
O uso excessivo de smartphones também distorce a noção de tempo, fragmentando a atenção em micro experiências digitais descontínuas. Notificações e multitarefas estimulam excessivamente o sistema dopaminérgico, criando uma sensação de urgência e reduzindo a capacidade de viver o presente. Para elucidar isso, Costa cita o pesquisador Mark Whitman.
Whitman diz que “o excesso de multitarefa digital nos afasta da experiência contínua do agora”, resultando em dias cheios, mas vazios de significado e memórias consistentes.
“A neurociência distingue o tempo da seguinte maneira: há o tempo prospectivo, que é a experiência enquanto o tempo passa. O tempo retrospectivo, que é a avaliação do tempo passado com base na memória. O tempo biológico, que são os ritmos circadianos que organizam o nosso corpo. E o tempo social, que é a relação do ser humano com as regras e convenções culturais”, explica Bruno Nogueira da Silva Costa.
Redes sociais fazem o tempo “acelerar”
Segundo pesquisa Global Digital Overview 2020, o Brasil ocupa o terceiro lugar no ranking de populações que passam mais tempo nas redes sociais, com uma média diária de 3 horas e 31 minutos, atrás somente de Filipinas e Colômbia. A psicóloga e diretora de saúde do Me too Brasil, Mariana Luz, compreende que o excesso de estímulos das redes sociais está diretamente ligado à ansiedade. Para a especialista, atualmente as pessoas vivem sempre pensando no próximo compromisso, próxima meta, transformando o presente numa “zona de passagem”.
“Tem uma frase que eu adoro e representa exatamente esse tema: de depois em depois, a gente perde o agora. E isso nos rouba a chance de criar memórias, vínculos e sentido no tempo que estamos vivendo. Além de produzir adoecimento intenso.”
Questionada se existe alguma maneira de “frear” o tempo, Mariana Luz diz que é preciso fazer escolhas conscientes. “Existem algumas práticas simples, mas poderosas: caminhar sem olhar o celular, fazer refeições com presença, escrever à mão sobre o dia. São atitudes que podem parecer pequenas, mas que resgatam algo essencial: o contato com o real. Estar no tempo presente exige prática e intenção. E o mais bonito é que, quando conseguimos, o tempo não só desacelera — ele ganha profundidade”, reflete.
Por fim, a especialista lembra que a psicologia convida a observar essa questão do “tempo voar” com curiosidade, e não com culpa. Caso acredite que o tempo está passando mais rápido do que deveria, Mariana Luz convida a buscar uma saída do modo automático.
“Para retomar uma relação mais plena com o tempo, precisamos cultivar presença. Criar pequenas pausas, limitar a exposição aos estímulos digitais, fazer uma coisa de cada vez. É uma prática, mas também é um posicionamento: precisamos escolher estar. Porque o agora é o único tempo que a gente realmente tem — e quando a gente se dá conta disso, tudo muda.”