O diretor americano Oliver Stone chega ao 77º Festival de Cinema de Cannes para apresentar seu documentário “Lula” em 19 de maio de 2024 – CHRISTOPHE SIMON/ AFP
A estreia do documentário “Lula”, do cineasta americano Oliver Stone, no Festival de Cinema de Cannes, no domingo, transformou-se em um ato de apoio ao presidente brasileiro, com aplausos e vivas no salão.
“Este filme é sobre uma pessoa muito especial”, disse Stone à sala antes do início do filme.
“Oliver Stone é alguém para quem filmar, colocar uma câmera, são armas e uma forma de reescrever, de visitar a história contemporânea”, explicou Thierry Frémaux, delegado geral do Festival, que lembrou a atenção que o autor de “Salvador: O Martírio de um Povo” (1986) tem dado à América Latina há décadas.
Apresentado fora da competição, “Lula” retrata rapidamente a infância e a juventude de Luiz Inácio Lula da Silva para se aprofundar em seu compromisso sindical e político.
Com uma música de suspense à medida que o documentário se aproxima das polêmicas eleições de 2022, Stone, 77 anos, não esconde sua predileção pelo presidente, que é apenas um ano mais velho que ele.
No auditório, vaias e gritos podiam ser ouvidos a cada aparição do ex-presidente Jair Bolsonaro (2019-2022).
O mesmo aconteceu com a figura do ex-juiz e ex-ministro de Bolsonaro, Sergio Moro, o responsável pela investigação que acabou levando Lula à prisão por 580 dias, entre abril de 2018 e novembro de 2019.
O caso Lava Jato
O documentário analisa o caso Lava Jato do ponto de vista dos advogados de Lula e do jornalista americano Glenn Greenwald, apoiador de Lula, que fornece o contexto histórico.
Stone co-assinou o documentário com seu colaborador Rob Wilson, com quem criou obras como “JFK”, sobre o assassinato do presidente John Fitzgerald Kennedy.
O documentário apresenta as acusações de corrupção contra Lula como não comprovadas.
Stone, convidado regular do Festival de Cinema de Cannes, não realizou uma coletiva de imprensa para apresentar o documentário.
Lula “foi preso por corrupção, que é como as coisas geralmente são feitas nesses países”, disse o diretor e roteirista à AFP em abril, em Paris, onde foi promover outro documentário.
Conhecedor da história recente da América Latina, embora de uma perspectiva de esquerda, Stone considera que Lula estava prestes a sofrer o mesmo destino de outros líderes da região que foram derrubados por golpes militares.
Paralelismo com Trump
O cineasta também traçou um paralelo entre essas acusações legais, que ele descreveu como “lawfare” (uso indevido da lei para anular um rival político) e as que o ex-presidente Donald Trump está sofrendo atualmente nos Estados Unidos.
Trump, candidato republicano à presidência, foi indiciado por dezenas de acusações em nível estadual e federal.
O ex-presidente conservador é vítima de “lawfare”, como “Lula foi em sua época”, disse ele na entrevista.
“Eles o estão usando contra ele, totalmente”, disse.
Ao mesmo tempo, Stone acredita que os EUA estão de olho no Brasil. “É um grande país e eles chegaram muito perto de controlá-lo” durante a crise que levou às eleições de 2022, disse ele.
Stone já filmou outros líderes latino-americanos, e entre seus documentários mais conhecidos estão “Comandante”, dedicado a Fidel Castro (2003) e “Mi Amigo Hugo”, dedicado a Hugo Chávez (2014).
COM INFORMAÇÕES DIÁRIO DE PERNAMBUCO