A leitura de livros está sendo praticada por menos pessoas no Brasil: divulgada nesta terça-feira (19), a 6ª edição da “Retratos da Leitura no Brasil” aponta que 53% dos entrevistados não leram nem mesmo parte de uma obra nos três meses anteriores à pesquisa.

É a primeira vez na série histórica que o levantamento conclui que a maioria dos brasileiros não leem livros.

O levantamento considera tanto a leitura de livros impressos quanto digitais, além de não restringir qualquer gênero, incluindo didáticos, bíblia e religiosos. (A pesquisa apontou quais obras e autores foram os preferidos dos entrevistados: a lista tem um livro religioso no topo e escritores famosos como os mais citados).

“Se considerarmos somente livros inteiros lidos, no período de três meses anteriores à pesquisa, o percentual de leitores é ainda menor, de 27% dos brasileiros”, afirma a pesquisa.

O número de não leitores verificado em 2024 representa um aumento de cinco pontos percentuais em relação ao de 2019, que era a edição mais recente da pesquisa. Os dados deste ano são os que apresentam o maior total de “não-leitores” na série histórica do levantamento, que começou em 2007.

A “Retratos da Leitura” é considerada a pesquisa mais abrangente na tarefa de medir o comportamento do leitor brasileiro. Ela foi feita pelo Instituto Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria) e ouviu 5.504 entrevistados durante visitas domiciliares em 208 municípios entre 30 de abril e 31 de julho de 2024.

A pesquisa é uma iniciativa do Instituto Pró-Livro (IPL) e contou com parceria da Fundação Itaú e apoio da Associação Brasileira de Livros e Conteúdos Educacionais (Abrelivros), da Câmara Brasileira do Livro (CBL) e do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL).

Quase 7 milhões de leitores a menos

Considerando a estimativa populacional brasileira, os dados apontam que o país tem atualmente 93,4 milhões de leitores (considerando a população com cinco anos ou mais). Nos últimos quatro anos, houve uma redução de 6,7 milhões de leitores no país, de acordo com os dados.

Outros destaques da pesquisa

A leitura motivada pelo gosto diminui quanto maior a faixa etária dos indivíduos. Entre as crianças de 5 a 10 anos, 38% dizem ler por esse motivo. Durante a adolescência e até os 24 anos, esse índice varia de 31% a 34%.

“Essa redução está em sintonia e pode explicar os demais resultados de queda no percentual de leitores e na média de livros lidos. (…) Esses dados revelam que estamos perdendo esses potenciais leitores, que disseram gostar muito ou gostar um pouco de ler. O que nos faz perguntar o que estamos deixando de fazer para manter esse interesse”, afirma Zoara Failla, coordenadora da pesquisa.

Quais os livros mais marcantes?

Segundo a pesquisa, as obras mais citadas pelos entrevistados foram:

  1. Bíblia
  2. O Pequeno Príncipe
  3. Turma da Mônica
  4. Harry Potter
  5. Diário de um Banana
  6. A Culpa é das Estrelas
  7. Sítio do Pica-Pau Amarelo
  8. A Cabana
  9. Crepúsculo
  10. Violetas na Janela
  11. O Menino Maluquinho
  12. Gibis/História em Quadrinhos
  13. Dom Casmurro
  14. Pai Rico, Pai Pobre
  15. 50 Tons de Cinza
  16. Capitães da Areia
  17. As Crônicas de Nárnia
  18. O Diário de Anne Frank
  19. Como Eu Era Antes de Você
  20. Vidas Secas
  21. Cinderela
  22. Os Três Porquinhos
  23. Iracema
  24. A Arte da Guerra
  25. O Grande Conflito
  26. O Alquimista
  27. Chapeuzinho Vermelho
  28. Meu Pé de Laranja Lima

E quais os autores preferidos do público?

De acordo com o estudo, aparecem nas primeiras posições:

  1. Machado de Assis
  2. Monteiro Lobato
  3. Mauricio de Sousa
  4. Augusto Cury
  5. Paulo Coelho
  6. Jorge Amado
  7. Zibia Gasparetto
  8. Clarice Lispector
  9. Carlos Drummond de Andrade
  10. Chico Xavier
  11. Colleen Hoover
  12. JK Rowling
  13. Ariano Suassuna
  14. Cecília Meireles
  15. Agatha Christie

Escola deixa de ser lugar de leitura?

A maioria dos entrevistados cita a própria casa (85%) como o lugar onde costuma ler. Entretanto, os responsáveis pela pesquisa notam uma queda na identificação da escola como lugar de referência para a leitura. “É preocupante notar como as salas de aula estão deixando de ser um lugar de leitura, conforme a série histórica demonstra”, comenta Zoara Failla.

Segundo a pesquisa, em 2007, 35% citaram o espaço escolar como o lugar onde costuma ler livros. “Em 2011, foram 33%. Na edição seguinte, de 2015, as menções correspondiam a 25% da população. Em 2019, foram 23%. E agora foi de 19%, o menor índice já registrado”, apontam os organizadores da pesquisa.

Os dados mostram ainda que a indicação de livros pela escola tem um peso cada vez menor na motivação. “Considerando o livro atualmente lido pelo entrevistado, apenas 4% responderam que o faziam por recomendação escolar, proporção que foi de 25% em 2011, e 10% nas duas últimas edições da pesquisa (2015 e 2019)”, afirmam os analistas da pesquisa.

Mulheres ainda leem mais que homens

Acompanhando a queda no percentual de leitores no país, o número médio de leitores por gênero também caiu. Apesar disso, as mulheres continuam lendo mais que os homens.

De 2019 para 2024, o percentual de mulheres leitoras caiu 5%, ficando em 49% nacionalmente. Já entre os homens, a queda foi de 6%, chegando a 44%.

A estimativa do levantamento é de que haja 50,4 milhões de mulheres leitoras e 42,9 milhões de homens leitores no país.

Estudantes leem mais

Em uma comparação que considera a população leitora que estuda e a população leitora que não estuda, o primeiro grupo é percentualmente mais que o dobro do segundo.

Entre os estudantes, 77% são leitores, contra 37% dos não estudantes.

Já quando considerando-se a escolaridade, leem mais pessoas no ensino superior (63%), seguidas por estudantes dos anos finais do ensino fundamental (49%), do ensino médio (48%) e anos iniciais do ensino fundamental (40%). Do g1.