O mês era outubro. O ano era 2014. Dias após o anúncio oficial do PMDB da Paraíba à candidatura do governador Ricardo Coutinho (PSB), que perdera o primeiro turno para Cássio Cunha Lima (PSDB), por 28 mil votos de diferença, eis que o meu telefone toca.
Do outro lado da linha o senador Vital do Rêgo Filho, o mais sagaz e hábil estrategista político que a Paraíba já teve, a quem fiz assessoria, de maneira intensa, nas eleições de 2014.
Amigo Ytalo, preciso conversar com você. Estou hospedado no Hardman de Manaira. – Claro, senador, chegarei em instantes.
Chegando ao local, sou recebido com sorriso estampado no rosto por um Vital radiante com os últimos acontecimentos, acompanhado do inseparável e sempre simpático ex-deputado, colega de ALPB entre 1995 e 1999, Neto Franca.
-Amigo Ytalo, que coisa boa poder falar com você agora com calma. Fiquei lhe devendo uma atenção nesses dias de loucura em Brasília antes da nossa decisão, mas preciso lhe informar uma decisão importante para todos nós.
- Pois não senador, qual é?
–Estou me preparando para renunciar o meu mandato.
Como assim senador?
-Surgiu a possibilidade de uma indicação para o TCU, que é vitalícia, e o meu nome já recebeu a maioria dos apoios no Senado. Já conversei com Lira e estamos aos poucos fazendo à transição.
E por que renunciar agora senador, com mais quatro anos pela frente, outras vagas no TCU não podem ser abertas até 2019?
- As minhas condições de reeleição com Ricardo e Cássio na disputa serão difíceis. Voto quem tem é Vené, vou prepará-lo para essa missão de me substituir
- E Lira?
- Lira é bom nos bastidores, mas não vai ter mais paciência de disputar uma eleição. Eu acho que se Vené não vencer em Campina, que vai ser uma eleição muito difícil, ele vai concorrer à minha cadeira no Senado com muito mais chances do que eu teria.
- Vitalzinho, e se Ricardo ganhar a eleição agora, vai renunciar para disputar o Senado em 2018?
- Se fosse eu, renunciaria com certeza. Mas Ricardo é imprevisível. Ele sabe que se for candidato, é uma cadeira certa. Mas Ricardo é Ricardo.
- Imagina ele entregando o governo à Lígia?
– Ele me disse que não pode ficar pensando nisso para não enlouquecer.
- Cássio?
– Está arrasado com a nossa adesão. Os Cunha Lima são muito fortes de chegada e nunca perderam, mas dessa vez é diferente. Não calcularam o xeque-mate do PMDB. O quadro é irreversível.
Algumas das previsões de Vital, alguns dias antes do segundo turno das eleições de 2014.
Observações:
- Os mais de 100 mil votos obtidos por ele no primeiro turno foram transferidos em sua integralidade para Ricardo Coutinho, que virou a eleição e derrotou Cássio Cunha Lima.
- Raimundo Lira não disputou reeleição. Veneziano foi o candidato a senador mais votado em 2018. Ricardo Coutinho contrariou a lógica e não entregou o governo à Lígia Feliciano, escalando Veneziano para substituí-lo.
Passados quase onze anos, faço o justo registro de que este cidadão é, entre todos, o mais rápido e implacável estrategista que já conheci na política paraibana.
Ytalo Kubitschek
PB Agora