A Cidade de Monteiro, localizada no Cariri Paraibano, a 300km da capital João Pessoa, se prepara para ser o coração pulsante da cultura nordestina neste sábado (13), no Sítio Angiquinho, para comemorar os 96 anos do Poeta Zé de Cazuza – conhecido nacionalmente como “O Homem Gravador”, com a reunião de Músicos, Poetas, Repentistas, Declamadores, Cordelistas e Violeiros.

Laureado com o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Federal da Paraíba – UFPB e com a Medalha Augusto dos Anjos, aos 95 anos, José Nunes Filho nasceu em 13 de dezembro de 1929, numa fazenda da zona rural de Monteiro. Aos seis anos, assistiu a sua primeira cantoria de viola. Na peleja, estavam Severino Lourenço Pinto (Pinto de Monteiro) e Antônio Marinho do Nascimento. O fato lhe marcaria a memória. Não apenas pessoal. Mas a da própria cultura.
“Zé de Cazuza é uma escola educativa, literária, antropológica. Ele é o primeiro e o único a ter guardado na memória tantos versos do século passado, dos anos 50 e 60. Ele criou uma escola, então ele é um educador, não de conteúdos pragmáticos, acadêmicos, mas de conteúdos poéticos, sensitivos, culturais”, explica o Professor Gilmar Leite, do Departamento de Educação do Centro de Ciências Aplicadas e Educação (CCAE) da UFPB que propôs título de Doutor Honoris Causa.

Zé de Cazuza continua sua saga como o principal memorialista da geração clássica de poetas do Sertão do Pajeú. Se a poesia cantada do Pajeú não respirava academias, menos ainda se destinava ao papel. Naquela época, em que também os meios de comunicação eram escassos, os poetas eram também cronistas e informadores dos fatos sociais do mundo.
A poesia era feita e consumida na hora, comenta o professor de filosofia e pesquisador Marcos Nunes da Costa. “Sem Zé de Cazuza, muito do que foi declamado no calor do improviso jamais teria se tornado clássico com o tempo, se não fosse a atenção de Zé de Cazuza. Dono de uma memória prodigiosa, ele simplesmente decorava os grandes versos nascidos nas rodas de glosa e cantoria”.
“Só não entrava na cabeça dele verso ruim. O que era bom, ele gravava na hora. A maioria desses poetas sequer seria lembrada, se não fosse a memória obstinada de Zé de Cazuza”. Comenta o escritor Antônio José de Lima, autor do livro “Legado Filosófico de Poetas e Repentistas Semianalfabetos” (Ed. Bagaço).

EU SÓ ME LEMBRO DAS COISAS
“Não tem técnica, não. Eu só me lembro das coisas”, simplifica ele, consciente de seu papel como o grande memorialista da poesia do Pajeú. De um só fôlego, ele se veste da conhecida entonação poética da região e lembra um dos principais poemas de Louro do Pajeú sobre o peso dos anos acumulados na vida: “Eu já não suporto mais/ Na vida, tantas revoltas/ Prazer, por que não me buscas?/ Mágoas, por que não me soltas?/ Presente, porque não foges/ Passado, por que não voltas?”.
Mas seu espírito de menino parece não ter espaço para melancolias. Quer mais é ampliar os dados do seu HD cerebral com novas poesias. “Nem sei ainda. Mas vou ampliar meu livro. Acho que ainda dá pra incluir uns 30 poetas numa próxima edição”, diz ele, sobre o seu livro “Poetas Encantadores”, um livro que desde seu lançamento, nos anos 80, já teve quatro reedições e, naturalmente, se tornou uma das grandes referências para essa escola de poesia falada que, no papel, tem ampliado sua fala. Zé de Cazuza comemora seus 96 anos se preparando para o lançamento do volume II do seu livro.

SERVIÇO:
Aniversário de Zé de Cazuza
Data: 13/12/2025
Hora: 20 horas
Local: Sítio Angiquinho (Zona Rural de Monteiro)
Chico Lobo


