“O que você vai fazer quando o amor acabar?”, indaga a reflexiva letra de Alive and Kicking, dos maiores hits do Simple Minds. Se depender da banda escocesa, não há nem como cogitar o fim desse sentimento, que mostrou-se mais vivo do que nunca no palco do Espaço Unimed neste domingo, 4, diante de cerca de 7 mil pessoas em São Paulo.
Foi a 5ª visita do grupo ao Brasil, 12 anos após a turnê de 2013, que passou por três cidades tupiniquins. Dessa vez, porém, eles tocaram apenas na capital paulista, já que o concerto no Rio precisou ser cancelado por causa da coincidência de datas com o mega evento de Lady Gaga na Praia de Copacabana – “Má sorte”, definiu o cantor Jim Kerr, em entrevista ao Estadão.
O conjunto, fundado em 1977, conquistou o mundo nos anos 80 com sua sonoridade dançante e melancólica, característica do gênero pós-punk. Tal popularidade foi impulsionada também pelo boom da MTV e a participação no festival Live Aid.

Jim Kerr, do Simple Minds, com a banda em SP Foto: Reinaldo Canato / Ricardo Matsukawa / Mercury Concerts
Era Uma Vez em SP
O Simple Minds compensou a demora em voltar ao País e entregou um show vibrante, dançante, alto e que fugiu do óbvio. Antes do início da nova turnê sul-americana esperava-se um setlist similar ao recém lançado registro ao vivo Live In The City Of Diamonds, gravado em Amsterdam no ano passado – mas isso não aconteceu.
Para este giro, temas que não vinham sendo tão executados nos últimos anos foram resgatados, como Hypnotised, The Signal and the Noise, Speed Your Love e See the Lights, além de I Wish You Were Here, raridade do álbum Once Upon a Time (1985), representado no repertório com seis canções.
A partir das 20h, desde os primeiros acordes da climática Waterfront e ao longo de 1h40 de exibição, o Simple Minds demonstrou porque é um dos grupos mais importantes de sua geração.
Kerr, com seu carisma e presença magnética, é um tremendo frontman. Sua voz impostada, com contornos de David Bowie e Bryan Ferry, permanece muito bem preservada. “Boa noite, São Paulo!”, disse o vocalista de 65 anos, em bom português. Vestindo uma jaqueta de couro preta, ele se movimentava de um lado para o outro no cenário e interagia de forma simpática com os fãs.

Simple Minds voltou ao Brasil após 12 anos para show único em SP Foto: Reinaldo Canato / Ricardo Matsukawa / Mercury Concerts
Charlie Burchill, guitarrista/cofundador, opera como uma espécie de arquiteto sonoro, lembrando The Edge, do U2. Sem solos mirabolantes, ele dita o ritmo e a atmosfera de cada faixa, amparado pelos ótimos músicos de apoio: Ged Grimes (baixo), Sarah Brown (backing vocals), Gordy Goudie (violão e guitarra), Erik Ljunggren (teclados) e Cherisse Osei (bateria). As duas mulheres, diga-se, deram um show à parte com talento exuberante.
Numa época em que os artistas dos anos 70 e 80 costumam tocar todos os seus hits, a fim de promover bailões nostálgicos, o Simple Minds escapou do convencional, aprofundou seu catálogo e se deu ao luxo de ignorar ao menos cinco sucessos de sua brilhante discografia: Let There Be Love, Glittering Prize, Belfast Child, Promised You a Miracle e Mandela Day, esta última feita em homenagem a Nelson Mandela.
Digno de nota, ainda, que o álbum de estúdio mais recente, Direction of The Heart (2022), foi totalmente esnobado. Não faria mal lembrá-lo com First You Jump ou, então, trazer certo frescor com o single mais jovem do grupo: Your Name In Lights.
Em compensação, os fãs se contentaram com petardos do calibre de All The Things She Said, Someone Somewhere (In Summertime) Sanctify Yourself e, claro, Don’t You (Forget About Me) – hino oriundo do filme juvenil Clube dos Cinco (1985) que definiu uma era.
A balada mais aguardada da noite teve o coro de “la la las” cantado em uníssono pela plateia hipnotizada, santificada e certa de que o Simple Minds jamais vai ser esquecido.