Todo esse processo de escrita, envio de originais, contato com editora, divulgação de livro me fez pensar no porquê de ainda escrevemos, no porquê de passarmos dias, meses e anos das nossas vidas preparando um texto para depois nos lançarmos, como minúsculas gotas prestes a evaporar, nesse mar revolto que é o mercado editorial.
Será que nós, barquinhos de papel, navegamos por essas águas bravias porque sonhamos em ficar ricos e famosos vendendo livros? Sim, eu sei que alguns querem isso mesmo…
Será que nós, poeira ao vento, nos lançamos na tempestade para, quem sabe, ganharmos a tal da autoridade, para sermos reconhecidos como semideuses, considerados a nata da intelectualidade, para ganhamos a imortalidade, para sermos doutores honoris sei lá das quantas?
É difícil responder essa pergunta, se eu tiver em mente as mentes alheias, os sonhos alheios. Há quem escreva para lembrar, para não ser esquecido, para ensinar, para aprender.
No MEU caso, escrever é uma necessidade básica, não do meu corpo, mas do que poderia chamar de alma, de essência.
Escrevo porque tenho um aperreio dentro de mim. Escrevo porque, como nos disse Camões, há em mim um “não sei quê/ que nasce não sei onde/vem não sei como e dói não se porquê”.
Escrevo para colocar ordem no caos que me habita; para quem sabe transformar, com muito trabalho, essa bagunça em arte; para “bulir” com os outros, fazer chorar, fazer rir, fazer pensar.
Escrevo para me conectar de verdade, para tentar fazer pelos outros o que muitos fizeram por mim.
Escrevo para dizer que nós, reles mortais, assim como os que pensam que não o são, somos feitos da mesma matéria, das mesmas angústias, dos mesmos desejos, das mesmas vergonhas, das mesmas dúvidas.
Escrevo para, do meu jeito, perpetuar a palavra, a arte literária.
Para falar da vida ordinária que é extraordinária, do ser humano que vive rente ao chão.
Escrevo como quem faz uma declaração de amor.