Não é a velha ou a nova política que está sendo derrotada em Serra Branca — é a própria história da cidade. Aos poucos, ela vai sendo silenciada, apagada, expulsa dos lugares onde sempre viveu. As ruas que nos moldaram, os nomes que carregam nossa memória, os rostos anônimos que ergueram esse chão com suor e dignidade — tudo isso parece ter se tornado incômodo para quem chegou agora, sem raízes, pairando como uma sombra que não pertence… mas assusta.
Não é pecado vir de fora. O problema é chegar e não se misturar. É ocupar espaços sem se integrar, comandar sem conhecer, mandar sem se mostrar. Quem ama Serra Branca tem que andar nela com a cabeça erguida, e não viver nas sombras de gabinetes, em cargos sem rosto e decisões sem diálogo. Ninguém constrói junto se continua agindo como hóspede de si mesmo.
Estão vendendo modernidade com sotaque importado, mas entregando improviso e um modelo de gestão cuja principal marca, até agora, é um comitê informal de resultados impublicáveis. Confundem dinamismo com desordem, confundem iniciativa com improviso, confundem a Rainha do Cariri com a “República” que já foi imposta em Rio das Pedras.
Empresas que nem existem já protagonizam o recebimento do dinheiro público, enquanto o povo precisa se humilhar por migalhas. O pequeno comércio sangra, vendo milhões sumirem da economia local para alimentar privilégios de poucos.
Pior: a máquina pública virou trampolim de negócios privados. O que era do povo agora serve aos interesses de poucos. Esnobam o debate porque sabem que amanhã já não estarão aqui — não têm velórios para ir, porque não conhecem os mortos; não têm história para honrar, porque nunca pertenceram aos vivos.
Serra Branca sempre teve seus conflitos, suas disputas, seus personagens. Mas nunca teve vergonha de si. Hoje, tentam reescrever sua identidade com palavras ocas, performances ensaiadas e um currículo onde a sorte dos jogos de azar é quem determina os resultados.
A pergunta que ecoa nas esquinas é simples e brutal: quem está governando Serra Branca — e a serviço de quê? É hora de lembrar que essa cidade tem nome, tem rosto, tem memória. E, mais do que tudo, tem povo.
Povo que sente. Que lembra. Que resiste.
Por Padre Lázaro