A sucessão do governador João Azevêdo, ainda a mais de um ano do pleito, já toma corpo na política paraibana. E, se por um lado, o tempo parece longo, por outro, a base aliada já começa a viver os dilemas de uma escolha que não será fácil — nem apenas política, nem apenas técnica.
Dois dos principais nomes que circulam no núcleo do governo encarnam visões opostas sobre o momento: Adriano Galdino, presidente da Assembleia Legislativa e principal líder do Republicanos no estado, trabalha para convencer o grupo de que é viável e tem peso político para liderar o projeto em 2026. Já o prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena, demonstra estar pronto, mas quer ser convencido a não ser o escolhido — desde que haja critérios claros e argumentos consistentes.
Galdino tem se mostrado incansável. Reforça a musculatura do Republicanos, que tem nove deputados estaduais, três federais, dezenas de prefeitos e forte presença na estrutura política estadual. Seu discurso tem um ponto central: chegou a vez do partido. E ele, como figura agregadora e experiente, seria o nome natural para capitanear a candidatura ao governo. Argumentos não faltam — ele quer, pode e acha que deve.
Do outro lado da mesa está Cícero. Em entrevista recente, foi direto ao ponto: “Eu quero um argumento para eu não ser”. Não é uma bravata, é uma constatação. O prefeito de João Pessoa está bem nas pesquisas, tem boa aceitação popular e comanda a capital com estabilidade política e administrativa. Ao que parece, não briga para ser o candidato — mas não aceitará ser descartado sem base sólida. Quer critério, quer método, quer seriedade.
Mas esse enredo não é de dois personagens.
Lucas Ribeiro, o atual vice-governador, é o terceiro nome nessa equação. Jovem, com bom trânsito político e herdeiro natural do capital político de seu avô Enivaldo Ribeiro, Lucas pode acabar assumindo o governo caso João Azevêdo dispute uma vaga no Senado. Nesse cenário, como negar a Lucas o direito — e o desejo — de disputar a reeleição como governador em exercício?
Temos, portanto, três bons nomes. E nenhum movimento claro de desistência por parte de qualquer um deles. Enquanto Galdino busca costurar alianças e mostrar viabilidade, Cícero já parte do ponto de que está pronto — só recua se houver um motivo convincente. E Lucas, mesmo mais discreto, está no tabuleiro como uma peça que pode se tornar central com a saída natural de João do cargo.
A base de João Azevêdo tem uma boa dor de cabeça pela frente: como escolher entre três nomes fortes sem rachar um grupo que vem se mantendo coeso? Como fazer essa escolha de forma justa, sem parecer que foi no grito, ou no compadrio? A resposta, como bem colocou Cícero, está nos critérios.
Escolher por afinidade ou apadrinhamento pode dividir. Escolher com base em pesquisa, viabilidade eleitoral e capacidade de agregar, pode unir. A missão não é fácil, mas é essencial.
Afinal, como já dizia Ulysses Guimarães: “Na política, o que não pode é improvisar”. E em tempos de disputa apertada, quem errar na escolha, pode escolher perder.
Por Márcia Dias