Um artigo publicado pelo jornal norte-americano The Washington Post acusou o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de praticar uma forma de “bullying” diplomático contra o Brasil, ao ameaçar relações bilaterais em defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro. A análise aponta que a estratégia, em vez de enfraquecer o governo Lula, está fortalecendo politicamente o presidente brasileiro.
O texto relembra que, há cerca de 50 anos, outro presidente dos EUA, Jimmy Carter, marcou um ponto de virada ao romper com o apoio incondicional a ditaduras militares na América Latina, incluindo o regime brasileiro, ao defender os direitos humanos. Agora, sob Trump, os papéis se inverteram: os EUA estariam se opondo ao Judiciário brasileiro e apoiando uma ala política que reverencia o autoritarismo militar.
A reportagem destaca que Trump impôs neste mês uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, a ser aplicada a partir de agosto, em uma medida incomum, já que os Estados Unidos mantêm superávit na balança comercial com o Brasil. O gesto, segundo o jornal, foi interpretado como retaliação direta ao avanço dos processos judiciais contra Bolsonaro e seus aliados.
Além das tarifas, o governo Trump revogou vistos do ministro Alexandre de Moraes e de seus familiares, e exigiu o encerramento das investigações contra Bolsonaro — ações que, segundo o Washington Post, ferem a credibilidade dos EUA na defesa da democracia.
“Diplomatas americanos, em privado, demonstram incerteza sobre os méritos da ação. ‘É difícil conceber uma atitude que a administração Trump poderia tomar na relação EUA-Brasil que fosse mais prejudicial à credibilidade americana na promoção da democracia do que sancionar um ministro da Suprema Corte de outro país simplesmente porque não gostamos das decisões dele”, disse um funcionário do Departamento de Estado, sob condição de anonimato para discutir deliberações internas’ diz trecho do artigo.
A matéria ainda expõe que a campanha de pressão foi intensificada por Eduardo Bolsonaro, que vive atualmente nos EUA e atua como lobista do pai junto ao governo americano. Ele chegou a publicar vídeos nos jardins da Casa Branca, demonstrando proximidade com a gestão Trump.
Ainda conforme o colunista Ishaan Taroor, apesar da ofensiva, o efeito tem sido inverso: a popularidade de Lula cresce, especialmente entre setores econômicos antes mais alinhados à oposição. Ele citou o editorial d’O Estadão que afirma que há dois caminhos distintos: “o do Brasil e o de Bolsonaro”.
“Um diplomata brasileiro sênior, sob condição de anonimato por não estar autorizado a comentar publicamente o caso, afirmou que as instituições democráticas do Brasil e seu Judiciário independente não são moedas de troca a serem negociadas em uma barganha trumpista. Bolsonaro e seus aliados ‘conseguiram o que procuraram – uma ameaça severa contra o país inteiro e sua economia – e agora, não apenas parte de seus eleitores, mas especialmente o que antes era seu forte apoio no setor financeiro e empresarial, está se voltando contra ele’, disse o diplomata. ‘O Papai Noel chegou mais cedo para o presidente Lula, e o presente foi enviado por Trump, por meio de um ataque desastrado à soberania brasileira para proteger um aspirante a ditador e um perdedor evidente’” prosseguiu o diplomata em contato com o Post.
Leia a matéria completa em inglês, no link:
Trump’s bullying of Brazil is backfiring
PB Agora